burrocracia

Fotinha feita com meu valente Sony Xperia. Pra quem está com câmera sem grande alcance, o pica-pau-rei será um ponto escuro ao longe. Em 300 ou 500mm dá pra falar muito mais do local. Ps: essa foto é de uma beira de estrada em Jacutinga – MG, não é de parque público.

 

  • Texto e foto: Claudia. Não necessariamente representa as opiniões do Cris e do Daniel.

É mais uma daquelas burrices sem tamanho das instituições públicas brasileiras e de outros países

Qualquer um que tenha uma câmera um pouco maior do que uma compacta típica sabe: fotógrafos de natureza são maltratados. Você está numa área pública, mantida com o dinheiro que todos nós pagamos na forma de impostos. Você acha que o segurança do parque vai chegar pra você e te dizer “que bom que você está tirando belas fotos do local e ajudando a divulgar a importância desse parque”? Não. A abordagem educada é “você tem autorização para fotografar?”, e a abordagem mal educada é “é proibido fotografar aqui” – mesmo que tenha dezenas de pessoas fotografando. Se a sua câmera é grande, a conclusão da inteligência brasileira é de que você só pode ser um profissional que vai vender as fotos e, portanto, precisa da tal autorização.

Vivemos no Brasil. O Brasil, esse país em que a natureza não vale nada, em que o governo considera as áreas naturais boas apenas pra pasto, soja, mineração e madeireiras. Qualquer um que trabalhe para um parque público luta com orçamento, recursos. Não há verba para conservação, ampliação, fiscalização, muito menos uma boa propaganda e divulgação, que poderiam fazer o parque em que você trabalha crescer de importância aos olhos da opinião pública e, quem sabe, receber um orçamento maior, ou conseguir parcerias.

Nossa mentalidade burrocrata é “se o fotógrafo vender essas fotos e tiver qualquer lucro com isso, não podemos ficar de fora dessa boquinha”. E com isso criaram a mentalidade de que “se você vai vender as fotos, precisa pagar uma taxa”.

Há milhares de fotógrafos de natureza no Brasil, com a expectativa de chegar na casa dos milhões, conforme as câmeras estão cada vez melhores e mais populares. Temos um exército de pessoas do bem prontas para tirar milhões de fotos, compartilhar com família, amigos, conhecidos, Facebook, Flickr, prontas para falar com toda boa-vontade “fotografei no parque x, o lugar é muito legal, vale a pena conhecer!”.

Mas não.

A maioria das pessoas não vende as fotos, a maioria são apenas amadores praticando um hobby. Mas, eventualmente você pode conseguir alguma foto boa, que tenha o potencial de ser algo vendível. Então muitas vezes os fotógrafos nem comentam o local da foto, para evitar a chance de qualquer rolo com a burrocracia dos parques.

Mesmo no caso dos pros ou semi-pro que vendem fotos com frequência, o fato é que eles vendem porque conseguem ótimas fotos. O renomado fotógrafo fulano poderia divulgar uma foto maravilhosa, com a informação “Fotografada no parque x”, e alvoroçar a comunidade, que passa a saber que o parque x é um lugar onde é possível conseguir fotos lindas como aquela.

Mas não é assim que nossa burrocracia pensa. Em vez de ter propaganda gratuita e intensa em redes sociais, feita por milhares de pessoas, ela acha que é bem melhor conseguir uns trocados com taxa de pagamento de quem pretende fazer uso comercial das fotos.

Essa visão estreita não é exclusividade do Brasil. Na África do Sul eles também taxaram o trabalho dos profissionais, e assim os pros pararam de fotografar nos parques públicos. Vão para reservas privadas, às vezes do lado do parque, com animais que frequentam o parque público, mas como estão do lado de cá da linha, o fotógrafo não precisa pagar a taxa. Assim, em vez de ter o nome do parque sempre citado como um lugar com oportunidades fotográficas excelentes, o lugar fica associado como algo de segunda linha, uma opção popular para quem não pode pagar a Reserva privada tal — que tem fotos de divulgação maravilhosas, que poderiam muito bem ter sido feitas dentro do parque público — se a administração não fosse burra. Se há algum motivo para não querer seu parque citado como um dos melhores lugares do continente para ir fotografar, é algo que me escapa à compreensão.

Câmeras digitais, internet, redes sociais. Elas mudaram totalmente as possibilidades de divulgação e propaganda. Mas quem cria as regras dos parques está dando voltas num rolo de filme vencido e parece não querer sair do quarto escuro.