Garganta del Diablo, do lado argentino é muito mais legal

Garganta del Diablo, do lado argentino é muito mais legal

  • Texto: Claudia Komesu
  • Fotos: Claudia Komesu e Cristian Andrei. Usamos Nikons D800 com lentes diversas, Olympus TG3 (uma compacta à prova d´água, todas as fotos dentro do Parque Iguazu foram com elas), e celulares
  • Posto originalmente publicado no Virtude-ag.com

Em janeiro de 2015 eu e o Cris fizemos uma viagem de 4.000km em 10 dias. Saímos de São Paulo e queríamos nos esbaldar no Esteros de Iberá, o Pantanal argentino. Uma região com uma profusão incrível de bichos, que havíamos conhecido em 2012 com o Alejandro Olmos, mas só pudemos ficar 2 dias. Esta é a primeira parte do relato, com descrições detalhadas dos problemas da estrada pra Iberá, e do passeio no Parque Nacional Iguazu.

Neste post, descrição da viagem dia a dia, com indicações de hotéis e restaurantes. Escolhemos os hotéis pelo Tripadvisor, em geral reservamos online. Pegamos hotéis na faixa de R$ 200 casal com café da manhã. Alimentação é mais difícil estimar, porque teve dias de comer um lanche em posto, outros de jantar com vinho. Jantares com vinho e sobremesa em Puerto Iguazu em torno de R$ 150 casal. Estimo um custo de uns R$ 5.600 pra viagem, detalhes no próximo post.

Dia 14: São Paulo – Maringá pela Castelo Branco. 620km, 8h40 se fosse sem paradas, mas nós fizemos várias paradas, ainda sem ritmo de viagem. Chegamos umas 20h. Maringá tem pique de cidade saudável, com aquela igreja estranha (que tem o título de ser a mais alta do Brasil), e muita gente fazendo caminhada e exercícios ao redor do parque. Queríamos jantar no Monte Líbano, mas eles ainda estavam em recesso. Comemos num boteco perto do hotel. Dormimos no Hotel Deville, preço de balcão de R$ 580, mas pela internet achamos por R$ 200.

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Dia 15: Maringá – Foz do Iguaçu (400km, 6h). Como estrada foi o pior trecho de asfalto, mas não por problemas de conservação. Tanta plantação de soja, tanta, sem nenhuma visão de árvores ou mata que bate até uma depressão.

Em Foz, uma grata surpresa: descobrir a comunidade árabe da cidade. Jantamos no Castelo Libanês e experimentamos clássicos árabes, mas com temperos acentuados, que nos deixaram com a sensação de que os árabes de São Paulo são baunilha. Perto do restaurante tem uma mesquita linda, e quando estávamos indo embora ouvimos algo que parecia uma reza em árabe, fomos seguindo o som e chegamos em frente a uma casa cheia de gente, parecia que eles ouviam de um aparelho de som. No caminho pro hotel, um carro ao nosso lado no farol vermelho parecia ouvir a mesma voz pelo rádio, ficamos curiosos. No caminho de volta fomos de novo ao Castelo Libanês, e também conhecemos a doceria Almanara, que nos supriu de guloseimas élficas. Mais informações: http://www.matraqueando.com.br/roteiro-arabe-em-foz-do-iguacu. Dormimos no Hotel Bella Italia – que tem um jeito antiquado, mas cama e banho muito bons, ótimo café da manhã.

E um breve post sobre esses dois árabes aqui: 

Dia 16: Foz do Iguaçu – Posadas. O dia do atolamento. Informações sobre a Argentina.

Esta foi uma viagem sem grandes planos detalhados. Um dia antes ou no dia decidíamos o que iríamos fazer. Durante o café da manhã falei pro Cris que não queria parar para ver as cataratas, nem no lado brasileiro, nem do lado argentino. Queria ir direto pra Iberá, onde imaginava as centenas de caboclinhos, talvez a tesoura-do-campo, taperuçus, cervos-do-pantanal e muitas outras aves. E que na volta poderíamos passar pelas cataratas, se sobrasse tempo.

Passamos pelo controle alfandegário argentino sem problemas (é preciso estar com RG original ou passaporte) e eles perguntam quanto dinheiro estamos levando, se é em pesos. Eles também param o carro, checam se você está com a Carta Verde (o tal seguro), pedem pra olhar o porta-malas e abriram uma das mochilas de câmeras. O controle de Uruguaiana, quando fizemos a viagem em 2012 com o Alejandro Olmos, foi bem mais demorado. Tinha fila, formulários. Desta vez em Foz foram menos de 10 minutos.

Há vários postos policiais nas estradas, com cones para você diminuir a velocidade. Em geral há policiais no meio da estrada, encarando os motoristas. “Adelante” é adiante, siga em frente, você está liberado.

Para dirigir na Argentina você precisa ter a Carta Verde – seguro obrigatório, dois triângulos, extintor de incêndio dentro da validade e uma caixa de primeiros-socorros (uma farmácia em Foz do Iguaçu montou pra gente). Lemos que às vezes os policiais exigem cambão, duas mortalhas (juro. Lençóis brancos pra você poder cobrir um corpo caso tope com um acidente e cadáveres), colete com adesivos que refletem a luz, mas que não havia nada por escrito exigindo isso, que em geral era desculpa pra pedir propina. A atendente do hotel em Foz disse que já foi parada por policiais que exigiram um desses itens, e que eles cantam quanto querem receber de propina para deixar você ir embora. Nós não fomos parados nenhuma vez, e os policiais pareciam muito sérios. Chegava a ser triste passar pelos postos policiais no Brasil e nunca ver um policial rodoviário.

Hotéis e restaurantes em geral aceitavam dólares e reais, mas para os postos de gasolina era preciso ter pesos. Trocamos dinheiro numa casa de câmbio no Shopping Cataratas em Foz (onde também almoçamos e conseguimos a tal caixa de primeiros-socorros na farmácia). Tínhamos levado dólares, mas no Brasil eles não trocam dólares por pesos, e sim dólares por reais e depois reais por pesos, e você perde na conversão, o melhor é trocar reais por pesos. A cotação é mais ou menos 4 pesos por 1 real. Dentro da Argentina você verá uma cotação menor. Em Puerto Iguazu tivemos que trocar mais dinheiro, e a cotação oficial era de 8 pesos por 1 dólar. O Cris perguntou se ele só tinha aquela cotação, o homem perguntou quanto dinheiro ele queria trocar, o Cris falou “6 mil pesos”, então ele abriu uma outra caixa e fez 12 pesos por 1 dólar.

Não tínhamos reservado pousada em Iberá. O Alejandro disse que era melhor chegar lá e negociar na hora. Em 2012 ficamos no Posada Rancho Jabiru (http://www.posadaranchojabiru.com.ar/index.html), o Alejandro disse que estão cobrando US$ 11 por pessoa, e que servem café da manhã às 6h. Iríamos olhar esse, e talvez espiar os outros.

As dificuldades da estrada pra Iberá

Em novembro de 2012 ficamos só dois dias em Iberá porque ameaçava chover, o carro não era 4×4, e o Alejandro disse que poderíamos ficar ilhados e perder nosso voo pra São Paulo. Confesso que na época me pareceu exagero, mas fizemos como ele falou, e tivemos que deixar aquele paraíso.

Tentamos voltar a passarinhar com o Alejandro em novembro de 2014, e agora em janeiro, mas ele estava com a agenda cheia. Por isso decidimos ir sozinhos, mas descobrimos que chuva em Iberá é um assunto sério. Quando chove as estradas de terra têm trechos de consistência de sabão. Seguimos vários trechos usando a trilha de pneus de caminhonetes grandes. De Puerto Iguazu até a Colônia Carlos Pellegrini – onde ficam várias pousadas, o caminho mais reto seria pela estrada asfaltada 12 e depois pela rota 41, que já beira os esteros. Mas imaginamos que a 41 estaria bem molhada, e o Google também dizia que pela 41 eram 50km a menos, mas 2h a mais, então fizemos 12 – 40.

De Puerto Iguazu até o início da 40, indo pela RN 12, são 400km. Já foi uma viagem comprida, e quando chegamos no início da 40, descobrimos que ela era de terra-lama, e que a Colonia Carlos Pellegrini estava a 120km. Era tanta lama que levamos 2h para percorrer os primeiros 30km. De vez em quando alguma caminhonete cruzava no sentido contrário, mas só caminhonetes grandes.

No caminho fomos ignorando os bichos porque estávamos longe do lugar onde iríamos dormir, e achávamos que teríamos vários dias para fotografar depois. Por isso fomos ignorando gavião-do-banhado e muitos caboclinhos e outras aves.

Depois dos primeiros 30km parecia que o terreno tinha melhorado, e falei pro Cris que eu poderia dirigir, pra ele descansar. Fui eu que atolei o carro, mas ele foi bonzinho e disse que se fosse ele no volante ele também teria atolado. Pegamos um trecho em que os sulcos de pneu eram fundos demais pra suspensão do nosso carro, e o chassi engastalhou na lama (temos um Suzuki Grand Vitara 4×4). Tentamos calçar os pneus com os tapetes do carro, quebramos galhos de pinheiros – não havia pedras por perto. Calcei os pneus até com pinhas, mas não adiantava. Pensei até em tentar cavar embaixo do carro, com a tampa de plástico da caixa de primeiros-socorros, mas o Cris falou que eu não ia conseguir. Até comecei, mas vi que ele estava certo. Estávamos sem celular internacional, mas depois li que nesse trecho não tem sinal de celular.

Depois de 1h30 parados lá, apareceu uma Amorak. Achamos que estávamos salvos, mas quem dirigia era uma mulher sozinha, que falou que não tinha como nos ajudar, mas que dali a uns 10 minutos viria uma outra caminhonete com funcionários dela e que eles poderiam ajudar. Essa caminhonete apareceu depois de 1h, patinando muito na lama. Tinha 6 homens, mas eles não quiseram parar pra nos ajudar. Disseram que voltariam com um trator.

Eu e o Cris já estávamos mais ou menos conformados em ter que passar a noite na estrada. Aparentemente não há socorro rodoviário na região. As duas caminhonetes que passaram, perguntamos se eles poderiam ligar pra alguém quando chegassem no asfalto, mas eles não sabiam de nenhum serviço por perto.

César e Máximo

César e Máximo, dois anjos argentinos capazes de interromper a viagem deles pra ficar quase 2h com a gente na lama (na lama mesmo), sob um sol escaldante. E por fim conseguiram desatolar nosso carro.

O que nos salvou foi uma Ford Ranger grande, com dois anjos, o Cesar e Máximo. Eles estavam em férias, também em direção a Iberá. Ficaram 2h com a gente. Tentaram puxar com uma corda que arrebentou, tentaram empurrar o carro, carregaram troncos e tentaram fazer uma alavanca pra levantar o carro, e por fim o Cesar pensou nos arames das cercas. Cortaram arames compridos, trançaram fios de quatro, amarram na caminhonete, e foi assim que desatolamos.

Quando a caminhonete com os 6 homens disse que voltaria com o trator, eles poderiam ter ido embora e continuado a viagem deles. Mas o Cesar falou “bah. Esses caras não voltam não”, e continuaram tentando.

Quantas pessoas interromperiam a viagem de férias, pra andar no meio de uma estrada de lama, sob um sol escaldante, pra empurrar carro, carregar tronco? Pra ajudar dois desconhecidos. Quando a estratégia do arame funcionou e desatolamos, fui perguntar “não paga nossa dívida com vocês, mas vocês aceitariam algum dinheiro?”, e não quiseram. O Máximo me disse “imagine, estamos de férias, não precisamos do dinheiro. E gosto de pensar que se fôssemos nós precisando de ajuda, vocês também teriam parado”. Tenho uma dívida de sangue com estes dois.

Os amigos do Cris que rodam mais de carro ficaram horrorizados em saber que fizemos uma viagem grande dessas sem levar um kit básico de ferramentas, incluindo uma corrente ou uma fita especial, apropriada pra rebocar nessas situações. Vivendo e aprendendo.

O pessoal que cruzou com a gente em sentido contrário, tanto a Amorak quanto a caminhonete com os 6 homens, desaconselhou totalmente seguirmos viagem, disseram que os trechos estavam piores ainda. Depois que desatolamos estávamos preparados pra uma volta longa e demorada, mas depois de umas horas de sol, nem reconhecíamos a estrada. O tal trecho de 30km que levamos 2h, fizemos em 1h. Isso também nos mostrou a fragilidade e instabilidade do caminho. Tínhamos nos arrependido de não ter ligado pra uma pousada em Carlos Pellegrini e perguntando se a estrada estava transitável, mas depois vimos que essa é uma informação difícil. Se chove, só caminhonete grande. Se fica uns dois dias sem chover, com sol forte, qualquer carro passa.

Decidimos que dormiríamos em Posadas. Depois que saímos da estrada de terra, eram mais 130km de asfalto. Chegamos na cidade mais de 22h, tomamos banho, fomos jantar num restaurante na avenida costeira. Foi bem estranho estar lá, limpos, vendo a paisagem bonita do rio, com taça de vinho, quando poderíamos estar dentro de um carro no meio de uma estrada de lama. Dormimos no Hotel Julio Cesar, no centro da cidade, o primeiro que encontramos vaga. Nada de especial.

Dias 17, 18 e 19: Puerto Iguazu – Vale a pena conhecer o lado Argentino. Vocês acham que esses apuros foram o suficiente pra nos fazer desistir de Iberá? Como sempre não tínhamos planejado, mas durante o café da manhã pensamos em tentar chegar lá pela estrada 37. O início da 37 estava só a 90km da cidade, claro que valia a pena tentar. Na parte da manhã rodamos pelas oficinas de carro de Posadas, porque o carro estava trepidando muito. Levamos pra alinhar e balancear, mas a oficina disse que seria impossível antes de lavar o carro. Tentamos três Lavaderos até achar um que pudesse lavar nosso carro, a tempo de levar na oficina antes dela fechar. Almoçamos na avenida costeira e depois seguimos rumo a estrada 37.

Mais uma vez, era eu no volante. Passei da entrada, mas desconfiei, acordei o Cris e pedi pra ele olhar no Google Maps do Ipad, que mostra onde estamos mesmo sem sinal de celular. Voltamos, vimos a entrada pra 37, saí do asfalto e logo nos primeiros metros de terra deslizamos como patinadoras no gelo. Fiz o que não se deve fazer: freei e o carro rodou 45 graus. Estrada larga, sem valetas, sem carros em volta, sem perigos. Mas foi aí que grunhi de frustração. O Cris até perguntou se eu queria tentar outra rota, chegar até Mercedes, tentar ir por baixo. Mas era longe demais, e a lógica dizia que qualquer estrada de terra nos arredores de Iberá estaria daquele jeito.

Olhamos o mapa e decidimos passear nos arredores dos limites do estero. Fomos pros lados de Ituzaingó. Num ponto em que o mapa mostrava que a estrada passava rente aos esteros, vimos aqueles campos alagados bonitos, várias cabecinhas de garças pontilhando o cenário, vários martins-pescadores pousados nos fios, japacanins. Era quase tortura. Tanta coisa pra ver, e tudo fora do nosso alcance.

IMG_0887_resizeSaindo da estrada principal, seguindo a placa da represa, você chega na vila que beira praias de areia, onde as pessoas vão se banhar. Havia pelo menos uma pousada e um hotel. Passeamos um pouco na vila, tomamos sorvete, e eram umas 19h quando perguntei pro Cris o que ele queria fazer, ele disse que tinha pensado em dormir em Puerto Iguazu, que parecia estar a 320km, mas depois vimos uma placa de 380km.

Sete da noite e a gente achava que percorrer mais de 300km era ok. Pronto, tínhamos virado argentinos-uruguaios.

O Cris dirigiu a maior parte do tempo, só peguei nos 100km finais, mas tive o susto de topar com um carro na contramão. Nós dois a alta velocidade, mais de 22h. Não tirou fina, logo voltou pra faixa dele, mas xinguei até a sétima geração do motorista. Chegamos em Puerto Iguazu 23h, muito cansados. Nos dois dias seguintes ficamos no hotel Grand Crucero – bem avaliado pelo Trip Advisor, arrumadinho, mas nosso quarto tinha a pior vista que já vi: a janela ficava colada com uma obra aparentemente embargada (se ficar lá, não fique no segundo andar).

Pensamos em pedir pra trocar de quarto, mas estávamos cansados. Apesar dos funcionários serem muito simpáticos, outro ponto negativo do hotel era a sensação de que tudo tinha sido construído com materiais bonitos de longe, mas tudo de baixa qualidade. Dos 4 elevadores, dois estavam em manutenção. Os botões do elevador eram de plástico. Num dos dias a porta do nosso quarto não abriu, o Cris desceu (pelas escadas) pra pedir pra remagnetizar o cartão, voltou, não abriu, desceu de novo, subiu com um funcionário que conseguiu abrir a porta dando um encontrão de ombro. Esse hotel é muito elogiado pelo café da manhã, mas não achamos grande coisa… na verdade, a quantidade de doces e frituras dava até um pouco de repulsa. Mas também tinha pão-de-queijo, suco de laranja, frutas, então tudo bem.

Dia 18 tivemos um dia livre. Piscina, almoço demorado no La Rueda, pequeno passeio no fim do dia na estrada que dá no parque. Eu estava dormindo no carro, acordei quando o Cris entrou numa estradinha paralela, tentando encontrar um ponto pra fotografar outro céu lindo. Perdemos as luzes mais incríveis, mas vimos uma cena que até gravei no celular: fim do dia na lagoa com coral de sapos. Estávamos em área Guarani, eu tinha acabado de acordar, então por uns instantes pensei se eram sapos mesmo, ou se eram índios fazendo alguma homenagem ao fim do dia. Pra mim são os sapos-guarani, num bom ritual de fim de dia início da noite.

No dia 19 fomos para o Parque, no lado argentino. Devo ser um dos raros casos de brasileiro que só conhece o lado argentino de Iguaçu. O Cris conhece o lado brasileiro, e validou o que todo mundo fala: o lado argentino é muito mais legal.

Não conseguimos conhecer o parque todo. Chegamos umas 11h (em toda a viagem, só teve um dia que acordamos em horário passarinheiro. Nos outros, bancamos os turistas e tomávamos café da manhã às 9h30). O parque funciona das 8 às 18h30, o último horário de entrada é 16h30. Você pode ver as tarifas e detalhes neste site: http://www.iguazuargentina.com/que-hacer/informacion-visitante/horarios-y-tarifas/

Fizemos o Gran Aventura, o tal passeio em que você passa pelas cataratas e sai enxarcado. A ex-mulher do Cris fez esse passeio no lado argentino e no lado brasileiro, e disse que no lado argentino você chega mais perto das cachoeiras.

Parece que essa é a questão de Brasil x Argentina: no lado brasileiro há vários cenários lindos, mas as passarelas não são feitas pra você chegar perto das atrações. Enquanto a Argentina é um prato cheio pra suicidas que queiram ir embora em grande estilo.

A Gran Aventura custa 580 pesos (uns R$ 145) e dura 1h20. Um trecho em jipe aberto pela mata, um pequeno trecho de caminhada, um trecho rio acima, e depois finalmente o banho nas cataratas. Existe a Aventura Náutica, por 270 pesos (R$ 68), que é só a parte das cataratas. É verdade que a parte das cataratas é a mais emocionante, mas achamos que a Gran Aventura valeu a pena porque vai criando um clima, você aproveita melhor. 12 minuto de passeio de barco pareciam muito pouco.

Não temos certeza, mas nos pareceu que é possível fazer o passeio embarcando na entrada no parque (ao lado do Restaurante La Selva), ou perto das cataratas. Quando estávamos indo pegar nosso barco no Embarcadero Macuco topamos com um barco que estava chegando. Faça o passeio saindo do La Selva, parece muito anti-climax primeiro tomar o banho de descarrego, e depois fazer as outras partes do passeio.

Você pode comprar os ingressos dentro mesmo do parque, ou há vários hotéis que têm uma pequena agência que compra pra você, pelo mesmo preço. Nosso hotel tinha agência, fomos pedir informações lá, ela nos explicou que pra fazer o circuito pequeno não precisava comprar antes, porque saíam barcos a cada 20 minutos. Mas que pra Gran Aventura era melhor comprar antes. Tínhamos pensado em fazer o roteiro menor, mas chegando no parque mudamos de ideia e tivemos sorte de encontrar dois lugares no tour que sairia dali a vinte minutos.

O passeio é muito legal. Num dia quente como aquele é uma sensação extasiante ver as cataratas se aproximando, e depois sentir a força das águas respingando no rosto.

Você sai do passeio inteiro molhado. Eles emprestam uma sacola impermeável, então quem quiser pode levar uma muda de roupa e se trocar depois. Algumas pessoas fizeram o passeio de biquíni.

Fizemos o circuito inferior, almoçamos empanadas na lanchonete do parque, e depois pegamos o trem na Estacion Cataratas, que leva até a Garganta del Diablo. Que lugar incrível. Quando eu ainda achava que conseguiríamos chegar em Iberá eu tinha falado pro Cris que não fazia questão de conhecer as Cataratas, mas seria um erro. A Gran Aventura foi muito legal, e a Garganta del Diablo é embasbacante. O Google mostra várias imagens aéreas, que mostram bem a beleza do local. E felizmente os argentinos não são como os brasileiros, as passarelas chegam na beirada, você consegue ver tudo de perto, é lindo demais. Ficamos lá até um funcionário dizer que era hora de ir embora. Vimos dois taperuçus, mas no Google vi fotos de uma revoada deles.

Vale a pena passarinhar no Parque?

Em janeiro é um calor infernal. Decidimos não ir travestidos de birdwatchers. Fomos de shorts, chinelo, e só as compactas à prova d´água. Vimos algumas pessoas com calças e camisas de manga longa, mochilas de fotos, tripé, e ficamos com pena. Chegamos perto da hora do almoço, talvez às 8h seja mais movimentado de aves. Mas não estávamos em pique de passarinhar, mais de passear. Vimos muitas gralhas-picaça, guaxes, na área do rio tinha anu-preto e anu-coroca, tesourinha, andorinhas, taperuçus. Também vimos macacos, lagartos, e quatis incrivelmente ousados – vimos um quati pular na mesa à nossa frente, entre duas pessoas, roubar o saquinho com as empanadas, e sair ileso.

No Wikiaves não há muitas fotos recentes do lado argentino. Há um registro de um falcão-caburé, mas de 2011. No lado brasileiro há registros de zidedê, choquinha-lisa, tietinga, guaracavuçu, mas foram feitos pelo Fernando Pacheco num mês de outubro. Vincent Kurt Lo registrou gritador e estalador. Araçari-castanho não é raro na região. Mas você vê que não é um lugar para passarinhar fácil. Mata Atlântica já é complicada, e talvez ainda haja a questão da rotina do parque. No lado argentino circulam 3 mil pessoas por dias, no lado brasileiro deve ser algo equivalente. O parque funciona das 8h às 18h30. O mais provável é que os bichos aproveitem os horários sem movimentação de gente.

Claro que com um pouco de empenho, e chegando cedo, você sempre verá aves. Mas olhando o painel, me parece que o certo foi mesmo aproveitar as paisagens, o vapor d´água, roupas de verão, caminhar leve sem o peso das câmeras. Aqui é o link pras fotos cadastradas pro Parque Iguaçu, o lado brasileiro: http://www.wikiaves.com.br/areas:pn_do_iguacu:inicio

Jantamos de novo no La Rueda. Queríamos experimentar o Aqva, mas ele estava com espera de 2h. Bom restaurante.

No dia seguinte voltamos para o Brasil, onde veríamos um amanhecer de brumas douradas no meio do Rio Paraná, o Salto São Francisco – uma das maiores cachoeiras do Brasil, com 196m, e até algumas aves. Na segunda parte do relato.