• Texto: Claudia Komesu
  • Fotos: Claudia Komesu e Cristian Andrei. Câmeras: Claudia – Nikon D300 e lente Sigma 100-300 com tele 1.4, Cristian – Nikon D300 e lente Sigma 50-500
  • http://www.bacury.com/index.htm

A Bacury fica a 3h de São Paulo, em Anhembi, na metade do caminho entre Piracicaba e Botucatu. Pista única a partir de Piracicaba, paisagem rural com cana-de-açúcar a perder de vista. Uma fazenda que ainda tem uma reserva de Mata Atlântica, grande o bastante para abrigar várias espécies de macacos, inclusive o mono-carvoeiro ou muriqui – o maior primata das américas, ameaçado de extinção.

Chegamos na quinta no fim do dia, e fomos recepcionados pelo Carlos Leôncio e sua esposa Silene. Na manhã seguinte, Carlos apresentou os melhores lugares para observação da fauna e nos deixou completamente à vontade para circular pela fazenda.

Tucanuçus, gralhas-do-campo e do cerrado, canários, rolinhas-caldo-de-feijão, três espécies de beija-flores, elaenias, arapaçus, alma-de-gato e até uma maria-faceira circulavam pelo jardim ao redor da sede. Uma estrada municipal corta a fazenda e a mata. Na mata à beira dessa estrada tivemos nosso encontro com os macacos, meu melhor surucuá, e alguns passarinhos.

Estou revendo o texto e achei engraçada a frase acima “nosso encontro com os macacos”, porque foi nossa visão dos mono-carvoeiros, sem saber que eram eles. Vimos três espécies de macacos: bugios, macacos-prego e um de braços compridos que não reconhecemos. Depois, olhando as fotos na sede da fazenda, comecei a desconfiar de que tínhamos acabado de ter um encontro especial. Mas só depois entendi a dimensão. Hoje revejo as fotos, sei que é um bicho ameaçado de extinção, e as imagens ganham outros tons.

Uma trilha estreita dentro da mata é promissora, inclusive para mamíferos. Há dois comedouros, visitados por jacus, gralhas, porcos, catetos e veados. A onça parda também anda pela mata, mas é praticamente impossível vê-la durante o dia. O local é bom, mas estamos numa das piores épocas do ano para observar aves. Mesmo assim, ficamos muito contentes com o avistamento de uma juruva, animal fantástico, com aquela cauda enorme, balançando como se fosse um pêndulo. E pude acrescentar um piprídeo à lista. A Rendeira é linda e comum, mas não deu mole para fotos.

O Soldadinho também apareceu, no fim da trilha, no local indicado pelo Carlos. Cris conseguiu uma foto razoável, mas naquelas condições difíceis de luz e distância. Beija-flores na última paineira florida me divertiram por horas.

A melhor época para ver as aves na Bacury é em outubro. Aves aquáticas como o colhereiro, garças e o tuiuiú ficam nas margens da represa de novembro a janeiro. Chegamos a ver um solitário colhereiro cruzando o céu, um absurdo pontinho cor-de-rosa no azul. Interessados em mamíferos têm boas oportunidades, basta ter paciência no comedouro. E o terreno é plano, bem diferente do litoral, os locais bons do Rio de Janeiro, ou Intervales.

Na mata há insetos like hell. Pernilongos, e mosquitinhos pequenos que vão de encontro aos olhos (vou arrumar um óculos de proteção para essas situações). Era muito enervante. Mas nas áreas abertas e secas, sem problemas.

A fazenda recebe principalmente famílias, e estrangeiros em birdwatching. Os brasileiros interessados em aves desanimam por causa do preço. Diária de R$ 250 por pessoa (em abril de 2009), mas com refeições e bebidas não-alcólicas inclusas. É um valor alto, mas valeu a pena, considerando as excelentes acomodações e refeições, a segurança e a exclusividade: eles só recebem um grupo por vez. No mínimo 2 e no máximo 14 pessoas. Ou seja, no feriado tivemos a casa e os locais de passeio só pra gente. Sem nenhum risco de perder uma foto porque um outro grupo chega e afugenta o animal.

Recentemente eles inauguraram uma outra casa, com hospedagem mais barata, para grupo de pesquisadores, birdwatchers. No esquema de bed & breakfast, mas equipada com fogão, geladeira, para os hóspedes preparem as próprias refeições. São três quartos, mas também no esquema de não misturar dois grupos.

A Bacury tem as vantagens dos mamíferos, conforto, terrenos planos. Mas é difícil comparar com as oportunidades de aves em Ubatuba e outros pontos da Mata Atlântica do litoral. Queremos voltar lá em outubro, e talvez em dezembro ou janeiro para ver se as oportunidades com as aves aquáticas é equivalente ao Pantanal.