Mata Atlântica boa e tranquilidade a 2h de São Paulo

  • Texto Claudia. Fotos: Claudia com Nikon D800 e Sigma 50-500 e celular, e Cristian Andrei com Nikon D800 e Nikkor 300 f4, e Fuji X-E1

Criado no final de 2010, o Parque Estadual Restinga de Bertioga abriga 98% dos remanescentes de Mata de Restinga da Baixada Santista. Mais informações sobre o parque: http://fflorestal.sp.gov.br/parque-estadual-restinga-de-bertioga/

Decidimos ir para Bertioga depois do início do feriado de 1º de maio. Pesquisei as atrações de algumas cidades e também os registros no Wikiaves. Fiquei interessada pelas descrições de que Praia do Itaguaré e Praia de Guaratuba são regiões com mata preservada. As fotos do Hector Bottai mostravam trinta-réis na foz do rio Itaguaré, na praia de Itaguaré, e vários elogios ao local, então fomos pra lá.

As aves

Bertioga tem uma lista de 250 aves no Wikiaves, que inclui espécies como gavião-de-cabeça-cinza, gavião-bombachinha-grande, chibante, os anambés do sudeste, várias litorâneas. Como sempre, não estávamos em busca de quantidade. Queríamos conhecer o local, e com sorte ver os trinta-réis que eu nunca vi, o de bico-vermelho, o boreal e a o real.

Na estradinha de terra ao lado da praia (veja abaixo explicações no “Como chegar”), vimos gaturamo-verdadeiro, tiê-sangue, saí-azul, bico-virado-miúdo, pica-pau-de-cabeça-amarela, sabiá-laranjeira logo que chegamos no local, na sexta por volta das 13h30. Também havia savacu, garças-brancas-pequenas e patos-do-mato (que me pareceram genuínos, mas depois os vi andando com os gansos). Eu teria ficado mais, mas o Cris queria ir descansar, e é do tipo que reclama de horário ruim, luz dura. Fomos pro hotel e não passarinhamos mais, mas pegamos um lindo por do sol na Praia de Guaratuba.

No sábado passeei um pouco pelas ruas ao redor do hotel, enquanto o Cris terminava de se aprontar. Poucas aves, mas quase chegando no hotel, um bandinho de tuins forrageando e usando uma estrutura de ferro armado para pousar. Boas fotos deles com asas abertas, e tive a oportunidade de ver o azul nas asas e no dorso como nunca tinha visto.

Na sexta tinha trocado algumas mensagens com o Hector Bottai sobre o local dos trinta-réis. Ele foi muito gentil em explicar o ponto, disse que o melhor horário para vê-los é na maré baixa, e até passou o horário da maré-baixa no sábado e no domingo (foi às 11h e ao meio-dia). O local é exatamente no encontro da foz do rio Itaguaré com o mar. Infelizmente no sábado a praia estava muito cheia de gente, o que provavelmente fez com que os trinta-réis não parassem por lá. Ainda assim, aproveitamos bem o período da manhã, antes da praia encher.

Me diverti fotografando com empenho uma batuíra-de-colar e uma batuíra-de-bando. Deitei de bruços na areia (e consegui sujar a D800 com areia, depois fiquei tirando grãos de areia das reentrâncias dos botões). Também havia um martim-pescador-grande, garça-azul jovem e adulto, garça-branca-grande, garça-branca-pequena, as maravilhosa fragatas, quero-quero de prata. Na mata em frente à praia, algum surucuá cantou, mas não quis aparecer. Um jovem príncipe já começando a assumir a plumagem também estava por lá.

Às 11h já havia bastante gente na praia, e ficamos até quase meio-dia esperando os trinta-réis, mas depois nos conformamos que eles não iriam aparecer naquela bagunça. No caminho de volta para o carro, entramos numa trilha onde há a placa “Toca do Mar”. Essa trilha passa em meio à Mata Atlântica boa, mas os pernilongos e borrachudos quase te carregam, e estávamos de shorts e chinelo. Ainda assim, apesar de ser quase meio-dia vimos o pintadinho (mas sem foto boa) e o pica-pau-bufador. Os dois apareceram espontaneamente, sem playback. Só não ficamos mais por causa dos insetos.

Essa não era bem uma viagem passarinheira, e sim uma viagem de casal, então fomos almoçar, voltamos pro hotel para descansar e não passarinhamos mais o resto do dia, apenas aproveitamos o por do sol em Guaratuba.

Domingo era volta de feriado, então queríamos sair cedo. Combinamos que iríamos apenas dar uma volta de carro na região em frente ao condomínio do Costa do Sol, e depois iríamos embora. Atravessamos a rodovia, e circulamos (de carro) pelas ruas de condomínios sem portaria, com poucas casa, e ainda bastante mata. Numa das ruas, um garrinchão-de-bico-grande cantava muito. Paramos o carro e pude fotografá-lo sem playback. Um bando de fêmeas de tiê-sangue também estava na região. Uns metros a frente, o som típico da rendeira, que também se deixou ser fotografada. O playback tem muitas vantagens, mas alegria maior é encontrar os bichos na beira da estrada, tranquilos, cantando ou comendo.

Apesar de não ter visto os trinta-réis, gostei muito do passeio, e pretendo voltar mais vezes para essa região de Bertioga, especialmente agora no outono-inverno.

Como chegar

Fomos pela Imigrantes, e não por Mogi. O trajeto deu 2h, saindo da Vila Madalena. A estrada estava tranquila, nem a entrada para Riviera estava complicada.

O hotel onde ficamos, o Costa do Sol Praia Hotel, está no Waze. Fica no km 198,5. Vá prestando atenção nas placas de quilômetros, logo depois da placa de quilômetro 199 você já sai para a direita. Não entre na primeira portaria bege e estilosa, continue circulando, passe em frente a lojinhas de comércio, e aí você verá uma portaria azul mais simples. Essa é a entrada para o condomínio onde fica o hotel.

A Praia de Itaguaré é fácil de achar porque a entrada para a praia fica imediatamente anterior ao ponto em que a rodovia (SP 055) cruza o rio Itaguaré. Dê uma olhada no mapa, e depois acompanhe pelo Waze. Outra forma fácil de achar a entrada para a praia é porque atualmente há vários restaurantes-galpões de ostras ao redor. Talvez num futuro próximo esses ostreiros sejam removidos, mas por enquanto eles marcam o ponto.

A entrada para a praia é um portal estreito de madeira, do lado direito da rodovia, na placa está escrito “Praia de Itaguaré – Parque Estadual Restinga de Bertioga”. Você entra com o carro e pode estacionar na rua de terra, ou pagar algum estacionamento das propriedades particulares que ainda não foram desapropriadas. O trecho em que vimos o saí-azul, tiê-sangue, gaturamo-verdadeiro foi no final da estrada, na parte em que as pessoas ficam no rio pescando. A entrada para a Praia de Itaguaré, o trecho em que os trinta-réis ficam, é logo no início dessa pequena estrada de terra. Dá para ver a praia, e há uma placa de madeira escrito “Parque Estadual Restinga de Bertioga”, com imagens de mapas que mostram o contorno do parque e as RPPNs que ele englobou.

Praia de Itaguaré

Praia de Itaguaré

Onde comer

Chegamos na sexta ao meio-dia. Fomos almoçar no cantinho das ostras, aquele trecho da estrada imediatamente anterior ao cruzamento da rodovia com o rio Itaguaré, com vários restaurantes-galpões. Escolhemos o Índia das Ostras e foi uma escolha acertada. Ótima isca de cambucu frita e mandioca frita maravilhosa, derretendo. Nem nos importamos em ter que deixar de lado o caldinho de sururu maizenado e o suco de maracujá fraco e com gosto de sementes. As ostras também são boas, mas não estavam geladas. As maiores são melhores.

No dia seguinte pensamos em experimentar algum dos outros, mas a Tenda das Outras tinha preços paulistanos, e não tinha mandioca. O Frutos do Mar também não tinha mandioca, então falei para voltarmos ao India, onde comemos ostras, mandioca, e um ótimo camarão-rosa num molho da chef.

Só almoçamos, os jantares foram no hotel, mas imagino que a qualidade da comida não varia. No India nossos pratos chegaram bem rápido.

Tudo altamente recomendado: mandioca que desmanchava na boca, pirão muito bem feito, ótimo camarão

Tudo altamente recomendado: mandioca que desmanchava na boca, pirão muito bem feito, ótimo camarão

Onde ficar

Ficamos no Costal do Sol Praia Hotel, na praia de Guaratuba, a 10 minutos de Itaguaré. Considerei ficar em Bertioga, mas aparentemente são 50 minutos da cidade até a praia, devido a voltas na rodovia, então fiquei feliz de encontrar um hotel na praia de Guaratuba. O Costa do Sol é um hotel simples, com pintura nova, mas quartos pequenos, colchão mole. Tem a vantagem do preço: R$ 260 para o casal, com café da manhã e jantar, e a localização: perto da praia de Itaguaré, e com regiões interessantes nos arredores para passarinhar. Apesar do preço e da praticidade, se você precisa de um pouco mais de conforto ou de colchão ortopédico, não é uma boa opção. No mesmo condomínio fica a Y-Goá, mas acabamos não indo lá ver os quartos, e pelo site deles não dá para saber se ela é apenas R$ 80 mais cara, ou se os quartos são melhores.

Praia de Guaratuba, Visão do Costa do Sol Hotel

Praia de Guaratuba, Visão do Costa do Sol Hotel