Seleção: África do Sul – Onde 2 – os parques públicos: Kruger, Kgalagadi, Etosha, um pouco do Pafuri Camp

 

Feito para pessoas focadas nos passeios auto-guiados, e que não precisam de muito conforto

Lamento não ter mais fotos de cenário, mas acho que por estas já dá para ter uma ideia. Os chalés são simples, mas quem passa o dia inteiro atrás dos bichos não precisa de muito. Vários campos têm piscinas! E elas parecem ótimas, muita gente frequenta, mas confesso que a única vez que pus os pés na área da piscina foi porque estava andando atrás de um African Paradise Flycatcher.

O Kruger e o Kgalagadi têm um esquema semelhante, com a diferença de que o Kruger tem muito mais campos, mais visitantes, e estrutura mais desenvolvida. Mas o Kgalagadi tem algo que acho que não existe no Kruger: o conceito de campos sem cercas. No Kgalagadi nosso campo favorito é Urikaruus (que precisa ser reservado com muitos meses de antecedência). Um campo sem loja, sem restaurante, mas sem cercas, com 5 ou 6 chalés como se fossem de palafita e com portões, em frente a um buraco d´água. E um ranger com espingarda. Nossa primeira noite lá, enquanto descarregávamos o carro, vimos hienas chegarem para beber água. Longe, sem perigo, mas emocionante. E ao redor do nosso chalé havia uma família de Cape Fox, posto um álbum mono depois.

Se tiver curiosidade, digite Urikaruus no Google. Vi que alguém fotografou um leopardo com filhote indo beber no buraco d´água à noite. Ah, se fosse comigo… possivelmente não teria foto alguma, só relato.

Estas fotos do Kruger são um pouco roubadas: a maioria das fotos foi feita em Olifants, talvez o campo mais bonito do parque. Acho que é o mais cênico. Letaba, por exemplo, não é bonito assim. Lower Sabie tem um restaurante ao lado do rio, com um deck muito agradável. Mopani é um campo com tudo novo e bonito, e enorme, mas está sempre vazio porque não há muitos bichos nos arredores. Satara também é um campo antigo, mas sempre concorrido, porque é comum ver guepardos, leopardos e leões nas estradas ao redor.

As outras fotos do Kruger, de uma tenda, são em Punda Maria, o extremo norte do Kruger. As tendas são mais bonitas e arrumadas do que os chalés – talvez alguns dos mais antigos do parque, bem antiquados, escuros, com janelas pequenas, mas os chalés têm ar-condicionado, as tendas só têm ventilador. Em outubro, que é a época que costumamos migrar para a África, ainda não está quente demais, mas já pegamos uma noite de 35 graus, em que só o ventilador não adiantava.

Os campos no geral são bem agradáveis. Há restaurantes, lanchonetes, lojas de conveniência. Um dos campos (agora não lembro qual, talvez Letaba) tem uma pequena arena onde são projetados filmes à noite. Alguns campos menores, que são apenas os chalés, não têm nem chaves para trancar a porta, dado o histórico de segurança e tranquilidade.

As estradas têm limite de velocidade e é bom obedecer. Além de radares em alguns trechos você não vai querer correr o risco de atropelar um animal.

O único grande defeito dos parques é a comida ruim: cardápios focados em carne bem passada, legumes super-cozidos. E serviço que pode ser lento e atrapalhado, conforme-se. Mas reservando os chalés com cozinha, dá pra se virar bem cozinhando, indo ocasionalmente para o restaurante nos dias que dá preguiça de cozinhar.

Na hora de fazer o check in nos campos, pegamos alguns poucos atendentes mal humorados, a maioria era gentil e eficiente.

Por todo o parque você vê placas de fantasmas: em bancos, hides. Pessoas que doaram dinheiro para o parque e ganharam uma plaquinha. “Em memória do meu amado marido John, que amava esse parque mais do que qualquer lugar do mundo”. Na nossa primeira viagem, não esqueço que um vizinho de chalé veio se apresentar: um texano que já tinha ido 17 vezes ao Kruger. Pensei “a gente ainda chega lá”.

E quando finalmente formos fantasmas também, morar no Kruger não é má ideia. É um prazer imenso passear num lugar grande, focado em ecoturismo, com regras que protegem os animais e a natureza. Se o Brasil soubesse valorizar nossos biomas… temos tantos tesouros aqui, e vai tudo virando pasto e soja.

Agora mais conforto e estilo

O Etosha é a joia na coroa da Namíbia, o parque mais importante do país, e famoso mundialmente. É um lugar impressionante e, fazendo o balanço da viagem de 2006, vimos que muitas das nossas melhores fotos foram lá.

Mas é mais longe do que os parques da África do Sul. Mais caro. Logística mais complicada. Em 2006 ainda era um esquema parecido com da África do Sul, mas com estruturas precárias. Depois lemos que a administração ia mudar, focar em lodges para turistas ricos, super-hotéis com enormes piscinas azuis – é o tipo de esquema de que a gente não gosta, então nunca mais voltamos. Tiramos fotos muito boas lá, vimos nossos primeiros grandes bandos de elefantes, leopardo, leões que tinham acabado de caçar. Mas o Kruger e o Kgalagadi também têm tudo isso, então acabamos voltando só pra África do Sul.

Acessei o site, a mudança realmente aconteceu. Em 2006 as acomodações eram parecidas com essas do Kruger. Agora estão assim. E isso nem são os lodges. Em 2006 quem nos ajudou a reservar lugar no Etosha foi uma agência bem eficiente, a The Cardboard Box.

O site oficial do Etosha não mostra os valores das diárias, mas o Cardboard tem esta página, talvez esteja atualizada. Se estiver, significa que uma diária num dos campos principais sai por US$ 200 / casal. Parece que são quartos, não chalés, e não têm cozinha. As refeições devem ter preços turísticos, e o aluguel de carro também era mais caro na Namíbia, então estimo que 7 dias no Etosha fica uns US$ 1.400 a mais do que na África do Sul, sem contar a parte aérea.

É mais caro, mas ainda num patamar razoável. O Etosha é um parque que vale a pena conhecer. E você pode emendar com uma viagem para os desertos da Namíbia – parece que a fotografia de fauna é bem mais difícil, mas há paisagens únicas. O site do The Cardboard tem muitas informações.

Um lodge de preços razoáveis, não-luxuoso, e com cenários únicos no Kruger

O Pafuri Camp é um lodge privado no extremo norte do Kruger, perto de Punda Maria. Quisemos experimentar uma noite de turistas ricos. Um lugar bonito, bem organizado, dividimos o jeep apenas com um outro casal – birdwatchers com luneta Swarovski, bem simpáticos – foi a primeira vez que olhei por uma luneta Swarovski, e achei incrível, parecia portal dimensional.

Tivemos jantar à luz de velas, passeamos por uma área privada do lodge, uma floresta de fever trees linda, foi lá que vimos um dos rapinantes míticos – a Crowned Eagle, longe pra chuchu, mas era ela. Uma águia muita famosa por sua força e por ter registros de ataques e provavelmente predação de crianças. Mas achamos cansativo andar de jeep, e olhando as fotos, descobrimos que rendemos mais no nosso esquema humilde de andar sem guia, com nossos horários.

Só pra ter uma ideia: o Pafuri Camp é um dos lodges mais baratos do Kruger, com diária de US$ 730 (na época) para um casal, mas tudo incluso – hospedagem, refeição, passeios. É caro, mas não absurdamente caro comparado com o nosso esquema popular. Nosso custo por dia, sem a parte aérea, é em torno de US$ 350 / dia.