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  • Viagem pra Áustria e Alemanha com roteiro focado em pistas de esqui para iniciantes com preços razoáveis, bem avaliadas, e com casas Airbnb ainda disponíveis na alta temporada de final de ano. Com esses critérios, fomos pra Innsbruck, Grassau (sul da Alemanha, na divisa com a Áustria,  Wörgl e Niederau. E um dia de passeio em Munique. Voo com conexão por Amsterdã.
  • Texto: Claudia
  • Fotos: Claudia (Nikon D800 e Nikkor 300 f4 VR com tele 1.4), Olympus TG3 e Iphone 5s, e Cristian (Fuji X-T1 e lente 18-55) e Olympus TG3
  • A maior parte do post foi originalmente publicada em: http://claudiakomesu.club/nossa-primeira-imersao-na-neve/

A gente já tinha visto estradas, árvores e parques com neve, picos nevados, geleiras e até um pouco de neve caindo. Mas grandes campos imaculados de neve fofinha e seca? Desses que você pisa e seu pé afunda 40 cm, que você pode descer rolando morro abaixo, você tenta fazer bolinhas de neve e ainda não dá porque ela precisa derreter um pouco. Anjinhos, fortes, guerras, bonecos de neve, descer a 50km/h rodopiando dentro de uma boia, experimentar um pouco do trenó, descobrir que snowboard e provavelmente esqui não é pra gente, ou apenas ficar deitando se sentindo muito confortável, olhando pro céu e ver aqueles cristais pequenos, delicados, caindo em você.

Isso nenhum de nós três tínhamos feito.

A neve é incrível, muito mais incrível do que eu imaginava.

 

Skyrim e campos de chantilly

Uma neve que caiu há dias ou semanas ou meses será uma neve que já derreteu um tanto, e depois de um tempo vira gelo duro. Neve nas ruas da cidade então é horrível, logo fica marrom e deprimente. Mas se você tiver a sorte de pegar uma neve fresquinha num local mais amplo e ermo, é como um outro planeta. Ou um filme. Um livro. Um game.

A principal referência pro Cris e pro Daniel era Skyrim, em vários momentos eles diziam “esse cenário é muito Skyrim”. Eu não jogo Skyrim, e não consigo lembrar de nenhum filme ou jogo favorito com tanta neve o tempo inteiro. O que eu ficava pensando era naqueles filmes ou jogos em que o cenário é temático, todo feito de comida. A fase de passar pelo mundo de chantilly. Estava tudo coberto de um chantilly muito branco e suave, como os doces austríacos.

 

A magia da realidade. A beleza absurda de um floco de neve

“Next to the true beauty and magic of the real world, supernatural spells and stage tricks seem cheap and tawdry by comparison. The magic of reality is neither supernatural nor a trick, but – quite simply – wonderful. Wonderful, and real. Wonderful because real.” Richard Dawkins

Teve uma hora que o Daniel rolou pela neve, ou talvez tenha sido quando eu o derrubei porque ele teve a petulância de achar que podia invadir o campo inimigo, e ele acabou provando neve. Falou que parecia areia. Estávamos num desses campos de neve bem seca, imagino que a sensação foi pela consistência. Se a neve ainda não está muito derretida ou compactada, caminhar pela neve traz uma sensação de areia. Parece maluco mas faz sentido, não? A areia é feita de grãos. A neve é feita de cristais absurdamente bonitos.

Os desenhos clássicos que lembram mandalas representando um floco de neve, sabe? Um russo chamado Alexey Kljatov conseguiu umas fotos incríveis usando um equipamento simples e caseiro, e publicou as instruções detalhadas no blog dele: http://chaoticmind75.blogspot.com.br/2013/08/my-technique-for-snowflakes-shooting.html e http://www.huffingtonpost.com/2013/12/03/alexey-kljatov_n_4373888.html

Eu tentei imitar, mas não tinha o banquinho, não tinha a lanterninha de led e a luz do Iphone não era a mesma coisa, e tive o azar de só ler o post e começar a fazer minhas tentativas quando a temperatura começou a subir, a neve não estava mais caindo como cristais e sim como flocos de cristais condensados, e depois parou de nevar. Mas consegui alguma coisa. Estas são fotos feitas no meu gorro azul de lã, e no vidro do carro.

 

Perigos de dirigir na neve

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Nas cidades por onde passamos havia máquinas trabalhando o tempo todo para tirar a neve das estradas e ruas. Elas raspam o chão e vão jogando sal. Mas você pode pegar uma rua por onde as máquinas ainda não passaram, e nas rodovias elas não dão conta de cuidar de tudo em tempo real. Num dos dias do passeio vimos um pequeno acidente de dois carros que patinaram na rodovia. Também tivemos problemas em algumas ruas mais íngremes por onde as máquinas não passavam.

Um desses dias foi quando tentamos almoçar no Loya Stub’n Moser, em Oberau. Fomos num dia e não achamos o restaurante (talvez a gente tenha colocado errado o endereço do GPS, era naquela região mas ele não achava o ponto da estrada). Era uma estrada com pouco movimento, por onde as máquinas não passavam. Estávamos com um Meriva sem correntes nos pneus. Teve um ponto em que o carro patinou e não subia mais.

No dia seguinte tentamos de novo, o GPS deu um outro caminho e chegamos a 400m do restaurante quando o carro patinou e parou. Voltamos uns metros, havia um lugar para deixar o carro estacionado sem atrapalhar a estrada e subimos a pé. Íngreme. Um pouco escorregadio. -14C. Mas o cenário era lindo, a refeição valeu a pena, e todas essas experiências sempre valorizam ainda mais a viagem.

Quando alugamos o carro, pagamos a mais para ele vir com correntes de neve. Mas só depois de uns dias descobrimos que não veio. Poderíamos tentar comprar, mas nossos arredores eram seguros, então deixamos pra lá. Mas é um pouco assustador. Nossa primeira rodovia com neve já estava escuro (o dia clareia umas 8h e escurece às 17h), nevava pesado, com vento. Estávamos a 40 minutos da nossa casa. Foi nesse percurso que vimos o tal pequeno acidente de carro. Depois disso perdi a confiança de que poderíamos zanzar pra qualquer lugar e achei bom fazermos passeios só nos arredores de onde íamos dormir, sem problemas em voltar três vezes pro mesmo campo nevado lindo onde fizemos as guerras.

Depois que li o post desse brasileiro que pegou -20C nos EUA, deu mais medo ainda. http://www.autoentusiastas.com.br/2015/01/entrando-num-fria-ou-dirigindo-na-neve/. Nós só pegamos trechos em que o carro não subia, e estávamos errados por não estar com as correntes de neve nos pneus. Mas ele conta que há trechos, quando a neve derrete um pouco, em que a pista se transforma numa lâmina de gelo totalmente escorregadia, e você simplesmente perde o controle, é segurar firme no volante e torcer pro carro ir pra direção certa. Eu tive uma pequena ideia do que é isso porque num dos dias que saí pra caminhar por Grassau, de repente caí e ralei o joelho (mesmo com calça), e nem conseguia entender como. Daí eu vi que era um local em que a pedra da calçada estava com uma cor um pouco diferente, tinha corrido um pouco de água e virado gelo. Totalmente escorregadio.

 

Diversão na neve

Esqui e snowboard

Não tenho escrito nem falado muitos palavrões, mas aqui é necessário dizer: os esportes de neve são foda. Nas pistas você vê criancinhas bem pequenas se dando bem, você vê jovens e adultos e velhos com controle perfeito do esqui, deslizando no meio de um monte de gente, sem bater em ninguém desviando e freando com perfeição. Mas e quem nunca tentou?

Eu desisti nos primeiros 15 minutos da aula de snowboard, porque era preciso subir um pequeno morrinho arrastando sua prancha com um dos pés. Um pé preso, o outro solto. Subir arrastando 6kg de equipamento no pé esquerdo. Não consegui e desisti. Depois fiquei pensando que podia ter desencaixado os dois pés, subido carregando a prancha, voltar a prender as botas na prancha lá em cima. Mas acho que não era mesmo pra mim.

Dizem que pra você aprender a esquiar você precisa de pelo menos três aulas pra começar a ter noção. Tem gente que consegue na primeira aula, mas não é a regra. No geral as pessoas mais novas se dão melhor. Condicionamento físico também conta muito, mas você estará mexendo com músculos que em geral você não trabalha. Minha instrutora de treinamento funcional contou que esquiou em Gramado, e ficou bem dolorida nas coxas. O Daniel faz kung fu três vezes por semana, mas também foi cansativo. E a molóide aqui, que faz treinamento funcional quase 1 vez por semana, desistiu.

Esquiar e snowboard parecem muito divertidos, mas tem uma curva de aprendizado. O Daniel decidiu que não queria passar por isso. Cris me perguntou se a gente devia forçá-lo. Se a gente tivesse se mudado pra um país com neve, talvez sim. Mas a gente mora no Brasil. Se nas férias ele queria só deitar e rolar pela neve, tudo bem.

Snowtubing e trenó

Snowtubing não exige nenhum conhecimento ou preparação, basta encaixar a argola na haste de plástico do lift, subir na boia, aquela corda te arrasta lentamente morrinho acima. Quando você começa a descer sua argola desencaixa sozinha da haste e você desce rodopiando a alta velocidade.

Trenó o Daniel não quis experimentar. Ele é muito cauteloso, e talvez o Cris tenha piorado um pouco a situação porque contou uma notícia sobre um inglês que morreu no ano passado descendo de trenó numa pista que era só de esqui. Daniel explicou que na boia ele se sentia seguro. Eu entendo. Brincamos um pouco com o trenó em locais de neve, que não tinha pista formada, e descemos pequenos morrinhos.

Snowshoeing e ski cross-country

Talvez a gente tenha cometido o erro de começar pelo snowboard, que todos dizem que é bem difícil de aprender pra quem não é skatista ou surfista e nem esquiador. Mas depois da experiência com o snowboard, acho que desanimamos um tanto em usar apetrechos na neve pra percorrer distâncias, parecia bem cansativo.

Guerra de bolinha de neve

Isso é divertido, mas não é tão fácil como eu imaginava. Primeiro: se a neve estiver muito fofinha e seca, você nem consegue fazer as bolinhas. É preciso que a temperatura tenha subido e elas tenham começado a derreter. Mas se a neve derreteu demais, você corre o risco da bola ficar muito dura, e quando acerta a outra pessoa é dolorido.

Eu sou vesga. Mas o Daniel e o Cris também tinham dificuldade em acertar. Não é como jogar uma bola de tênis. Provavelmente a falta de homogeneidade interna, o formato irregular, essas coisas contribuíam pra ser difícil ter uma boa mira pra acertar na pessoa.

E tinha o problema: neve levinha voava pouco. Neve mais derretida formava boas bolas que chegam mais longe, mas se acertassem na pessoa machucava.

Fortes e bonecos de neve

Nosso primeiro boneco e único boneco de neve foi pequeno. Ainda tinha nevado pouco, não havia muito volume e a neve estava ainda bem seca. Deve haver algum truque pro pessoal conseguir compactar e formar aquelas bolas grandes, porque perto de onde estávamos vimos um boneco de sucesso.

Nos dias em que pegamos neve mais modelável, já não queríamos fazer bonecos. Conseguimos construir um pouco de um forte, mas erguendo só uns 50cm de paredes. Pra fazer uma casinha completa, acho que precisaríamos de uma estrutura.

Também li sobre igloos, mas tudo que achei tinha instruções como “pegue os blocos de gelo e construa assim), e eu pensando “como eu consigo fazer os blocos de gelo?”. As imagens mostravam gente serrado blocos de gelo. Também se falava sobre cabanas de neve, pra você achar algum lugar em que tivesse nevado bastante, amontoado bastante neve, que ela estivesse um tanto compactada e pra você cavar ali. Vi que meus planos de casinha de neve não seriam tão simples e desisti.

 

O frio na neve é suportável?

Quanto ao frio, descobri que -14C, caminhando, com as roupas certas, você não passa frio. Mas se está só com gorro e casaco fechado, sem algum tipo de proteção no rosto, dá pra sentir o rosto amortecendo, uma leve dificuldade para mexer os lábios e falar. -11C parada, dia nublado sem sol, fotografando passarinhos do comedouro do vizinho, mãos e pés começavam a amortecer (não estava com as botas certas). -5C eram bem razoável, e 5C dava pra fica só com a segunda pele e os fleeces, ou então o casacão sem fleeces. Uns amigos pegaram -30C em Berlim, e falaram que é insuportável. Um deles usa óculos, ele falou que a respiração dele fez água condensar no óculos e ele não conseguia enxergar nada. Também vimos que o vento faz muita diferença. No dia que fomos pra Munique, no fim do dia começou a soprar um vento frio. Eu e o Daniel estávamos só com segunda pele e dois fleeces, sem os casacões, e começou a ficar muito frio.

Nosso instrutor de snowboard era um garoto holandês, Falcon. Ainda não tinha nevado, estávamos num campo de neve artificial (que é bem diferente da tal neve fofinha, é como se fosse gelo picado bem pequeno, e provavelmente é isso mesmo). Devia estar mais ou menos 2C. Ele estava nos explicando que aquela era uma temperatura bem agradável pra eles, que ele estaria só de camiseta, mas a escola os obrigava a usar casacos uniformizados.

O que são as roupas certas?

Três camadas: segunda pele, de preferência tecnológica, dessas específicas pra baixas temperaturas; algo quentinho, pode ser fleece; e uma camada impermeável.

Nossas roupas eram emprestadas da querida Ana, prima do Cris, também emprestamos uma segundas peles dos pais do Cris. Só tivemos que comprar sapatos, e algumas coisas pequenas.

Há esses casacos mais modernos e leves, com plumas de ganso, impermeáveis, mas eram coisas a partir de uns 170 euros (podendo ser bem mais caros), achamos que não valia a pena pra uma vez.

As pessoas ao nosso redor usavam roupas bem mais leves do que as nossas, provavelmente era só segunda pele e um casaco impermeável. Fica bem mais estético do que várias camadas de roupas que te deixam fofão.

Outro ponto importante são os sapatos. Cris e Daniel compraram na Decatlon umas botas de R$ 450 que aguentaram bem. Eu comprei na Áustria, uma loja qualquer, e não era muito boa. O isolamento térmico não era suficiente, a ponto de às vezes sentir os dedos começando a amortecer. Talvez também tivesse influência das meias, as minhas não eram tecnológicas (que ajudam na transpiração).

E, claro, não pode faltar gorro e luvas. Uma grande parte do calor do seu corpo se dissipa pela cabeça e mãos.

 

Cadê as fotos de passarinhos?

Consegui poucas fotos de aves, menos ainda de macro. Tínhamos montado um roteiro pensando que passaríamos todos os dias fazendo os esportes de neve, levei a câmera só por levar. Não pegamos neve na primeira semana — e tivemos sorte de pegar neve nos outros dias, o pessoal nos contou que tem sido imprevisível quando vai nevar, e há vários invernos que nevam muito pouco. O Cris ficou alguns dias doente, o Daniel queria passar um bom tempo em casa, então ganhei algumas manhãs pra passarinhar nas redondezas.

Aves sempre tem. Você pode contar que alguma casa terá comedouros e nos arredores você verá Eurasian Blackbird, Common Chaffinch, Great Tit, Eurasian Blue Tit, pardal e um primo, o Eurasian Tree Sparrow, pombos domésticos, corvos. Além disso, com menos abundância vi Eurasian Bullfinch, Coal Tit, Marsh Tit, Eurasian Kestrel, Mallard, Great Spotted Woodpecker, Eurasina Magpie, Common Buzzard. Vi um trush pintatinho, talvez o Mistle, uma Purple Heron e um White-throated Dipper (este foi lifer). Uma frutinha vermelha, talvez Rowan, um inseto (o Daniel que trouxe), alguns líquens. Cenários muito bonitos. Mas nenhum mamífero silvestre, mesmo com todas as minha mentalizações de “uma raposinha, uma raposinha”.

Fotografar em baixas temperaturas exige alguns cuidados a mais. Você tem que estar preparado pra bateria da câmera acabar bem rápido. Como fotografei pouco não tive problemas, mas eles recomendam você sempre andar com baterias reservas no bolso da calça ou do casaco, em algum lugar perto da sua pele, pra tentar mantê-las mais quentinhas. Também dizem pra você evitar ao máximo entrar com sua câmera numa sala aquecida, porque isso pode causar condensação. Daí quando você sai pro frio de neve, pode ter gelo dentro da sua câmera, a ponto de ter gente que não conseguia usar o zoom porque o gelo impedia. Se você não puder evitar de entrar com a câmera em algum ambiente quente, pra colocá-la dentro de um saco, tirar o máximo possível de ar e vedar.

E é claro, você tem que tomar cuidados extras com sua segurança e bem estar. Mais fácil se perder, ou ter problemas com o carro, escorregar. Mesmo um fotógrafo experiente como o Vincent Munier teve o problema de passar tempo demais encantando com uma coruja das neves, e quando voltou pro alojamento falaram “seu nariz está preto”, ele teve que ir pro hospital e perdeu um pedacinho do nariz, necrosado pelo frio (não sei dizer qual pedaço, as fotos dele não mostram, deve ter sido um pedaço bem pequeno e talvez uma plástica resolveu, mas deu pra entender).

 

Parte cultural da viagem: um dia em Munique, visita à Munich Residenz

Ficamos um dia em Munique e fomos conhecer a Munich Residenz. O Daniel não estava muito a fim de fazer programa cultural, mas foi obrigado. O Cris perguntou se ele queria ir, antes dele responder eu falei “é claro que ele quer, ele não é uma criança mimada que acha que a gente tem que fazer só o que ele gosta” — depois de uma dessas, o que ele poderia falar? Ainda assim, para não abusar da boa vontade do menino, o passeio foi bem rápido, não pude ficar contemplando as peças e fotografando à vontade. Mas achei incrível, vi coisas que nunca tinha visto em MET, Louvre ou Prado. A parte das joias da coroa é bem impressionante, e a coleção do rei de objetos de decoração é realmente digna de um rei. Algumas fotinhos aqui: