Maria-leque residente e muitas palmeiras jussara

O que é a Trilha dos Tucanos, estrutura

A Trilha dos Tucanos é uma propriedade particular, pertence ao Marco e à Patrícia há muitos anos. Por incentivo do Tomas Sigrist e do Luiz C. Trevizan, eles decidiram abrir para visitação de birdwatchers e outros amantes da natureza. O Marco e a Patrícia são muito simpáticos, sempre gostaram da natureza, é graças a eles que aquele pedacinho de mata ainda é porto seguro para várias espécies. Se não fosse a presença deles aí, os palmiteiros da região já teriam devastado as palmeiras, haveria muito menos alimento para os bichos.

(Ou seja: não compre palmito se você não tiver certeza da origem. Pode ter vindo da extração ilegal, que acaba com uma fonte importante de alimento para aves como jacutinga, pavó e araçaris).

Há uma boa mata na propriedade e nos arredores. Na verdade, 80% de Tapiraí é de Mata Atlântica (secundária ao que me parece, mas já com árvores altas). Eles estão começando agora, então por enquanto há 3km de trilhas auto-guiadas, mas com potencial de abrir mais alguns quilômetros de trilhas. Há trilhas íngremes e planas (felizmente a da maria-leque-do-sudeste é plana, fica a uns 600m da sede – pelo meu chute de distância). A proposta principal é de day use com almoço (atualmente, R$ 50 / pessoa).

Também há um chalé em que cabem até 6 pessoas. É um chalé pequeno, desses com uma cama de casal, um beliche, e no andar de cima mais duas camas, uma pequena salinha com mesa e duas cadeiras, e o banheiro. É importante deixar claro que não é uma pousada: tudo limpo e arrumado, chalé reformado, há lençol e toalha, mas as acomodações são bem simples, e não haverá alguém para limpar e arrumar seu quarto. Em compensação, você está no meio da mata, o capitão-de-saíra e o sabiá-una cantam na frente do chalé. O preço é R$ 120 / pessoa com pensão completa. As refeições são servidas na sede. Tanto a sede quanto o chalé foram reformados há pouco tempo. O refeitório é espaçoso, e a comida é feita pela própria Patrícia, bem no capricho. Café da manhã com frutas, pão e bolo caseiros, frios, suco, café. Almoço de frango com gengibre, farofa de banana, saladas.

Aves e oportunidades fotográficas

A Trilha dos Tucanos tem uma lista bem interessante de aves. Mas é preciso ter em mente: é Mata Atlântica, e ainda não há bebedouros e plantas atrativas ao redor da sede – exceto as grandes palmeiras jussara, que no inverno trazem até a jacutinga, além de araçaris, pavós. O Marco pretende instalar bebedouros, mudar o comedouro para um local mais próximo da mata, ter plantas atrativas para beija-flores e pássaros, mas tudo isso ainda será feito. O verão não é a melhor época para ver aves. Com playback e um bom guia, ainda dá para ver algumas. Estávamos sem guia ornitológico, mas contávamos com a preciosa ajuda do Luiz C. Trevizan, que frequenta a propriedade há muitos anos, tem trilha favorita, e descobriu a maria-leque-do-sudeste a algumas centenas de metros da sede. Além disso, o André estava com um Ipod, e tocou algumas vezes.

Maria-leque-do-sudete, êh bicho maravilhoso

Um bichinho do porte de um sanhaçu, um pouco menor. Discreto e tranquilo. É capaz de ficar horas no mesmo poleiro, indo e voltando enquanto caça insetos. Se ele tiver pousado em algum poleiro mais escondido, depois de alguma espera você conseguirá vê-lo no momento em que ele voa pra caçar o inseto, e voltar pro poleiro. Com alguma sorte, depois ele se muda para um poleiro com maior visibilidade. É um casal, provavelmente com ninho. Não vi os dois juntos (na verdade, tenho uma foto do macho, e aparece o rabo de outra maria-leque, mas não vi as duas juntas). O macho tem o penacho vermelho, o da fêmea é laranja. Normalmente o topete fica escondido, mas às vezes ela se espreguiça e pode mostrar aquele leque do outro mundo. Como sempre, estão na beira de um córrego limpo. Se você tiver azar, na hora que chegar lá a ave estará em algum poleiro difícil de ver, mas provavelmente estará naquele território. Espere um pouco, que uma hora ela volta para a beira do córrego.

Importante: não toque playback! Nem da maria-leque, nem de outra ave. Provavelmente eles estão com ninho e o playback pode atrair a atenção de predadores. Já vi isso mais de uma vez: você toca o playback de uma ave, de repente aparece um gavião achando que é uma presa fácil. A gente não sabe onde está o ninho, mas talvez o gavião localize. Fora que o mais provável é ela não atender o playback e pelo o que eu saiba não é uma espécie que pousa próxima da fonte do playback. Então em respeito à ave, por favor não use o playback naquela área.

O bichinho abriu o leque numa hora que se espreguiçou. Na verdade, mais de uma vez. Isso foi logo depois do almoço, estávamos eu, o Leonel Barbosa, o André Inidio e o Rodrigo Hauser. O André conseguiu ótimas fotos com uma compacta, fiquei impressionada com a SX50, que dá um zoom como se fosse de 800mm numa full frame, e 1.200 numa DX (claro, além da câmera tem o grande mérito do André). Os três moram em Salto – SP. O Cris e o Trevizan ainda estavam na sesta. O bichinho espreguiçou, e de repente apareceu o leque. O coração bate aquele tun-tun-tun-tun. Ela ofereceu boas oportunidades, mas não consegui nenhuma foto boa com o leque aberto porque fui muito burra. Estava há mais de 2 meses sem passarinhar, e há vários meses sem passarinhar na Mata Atlântica. Não regulei direito a câmera pra conseguir uma boa velocidade com menos luz. Pior: peguei sem querer a câmera do Cris, não chequei a regulagem, e estava regulado para fotografia de cassino. Ou seja, fiz várias burradas possíveis, e assim não reparei que estava com 1/60 de velocidade e, perdi uma oportunidade que não sei se terei de novo.

Outras aves

Bom, eu só queria saber da maria-leque, ainda mais depois de olhar as fotos à noite no Facebook e ver a grande c… burrada com a regulagem da câmera. Então no dia seguinte fiquei a manhã toda, das 7h20 às 13h30 em frente ao poleiro favorito do bichinho, eventualmente peguei uma cena num poleiro diferente. Ela caçou bastante, mas nada de dar aquela espreguiçada bonita e mostrar o leque de novo. Fiquei lá, não fui almoçar. O Cris voltou pra sede e trouxe um lanchinho que a Patrícia preparou pra mim: um lanche com queijo quente bem caprichado, bolinhos de arroz com gengibre. Comi tudo – entenda, não é que os birdwatchers não sentem fome, a gente sente muita fome, afinal o dia começa às 5h30, mas muitas vezes escolhemos não comer pra ficar atrás das aves – e ficamos mais um tempo por lá, mas por fim desistimos. Não foi dessa vez.

Apesar de só ter olhos pra maria-leque, ainda peguei umas fotinhos de sabiá-una, choquinha-carijó, arapaçu-de-garganta-branca, benedito-de-testa-vermelha, meu melhor bico-chato-de-orelha-preta num ramo lindo de samambaia, um guaracavuçu bem rui, mas lifer. Os garotos pegaram boas fotos do barranqueiro-de-olho-branco, pica-pau-de-cabeça-amarela, beija-flor-preto, tangará, pimentão. E na verdade, consegui lindas fotos da maria-leque parada em 1/60, 1/80, a dor no coração é só de pensar o que eu perdi, por ter sido burra. Sei que acontece com qualquer um, mas que fica uma dor inesquecível, fica.

Conclusão

Tapiraí tem uma ótima mata, a uma distância razoável de São Paulo. A Trilha dos Tucanos tem um grande potencial. No inverno, as palmeiras jussara oferecem espetáculo garantido. E, pra quem tiver paciência, as marias-leque também são outro show, esse mais independente da estação. Fora do inverno, com certeza há muitas aves típicas de boa Mata Atlântica, mas será naquelas condições típicas: em geral pouca luz, e dependência de boa audição e playback, ou de muita sorte. Se o Marco e a Patrícia continuarem investindo, a Trilha dos Tucanos pode se tornar um ótimo local para fotografar em pouco tempo. Com plantas atrativas ao redor da sede, e comedouros e bebedouros bem posicionados, o local tem todas as oportunidades para atrair diversas aves, oferecendo aquela mordomia de poder fotografar de um local coberto, enquanto se toma um café e come um bolo. Recomendo!

Como chegar

Chegamos na sexta perto das 22h. Tapiraí fica a 160km de São Paulo, daria umas 2h30 até a cidade, mais uns 30 minutos para chegar até a Trilha, que fica a cerca de 16km da pequena cidade de Tapiraí. (Levamos mais tempo porque paramos na estrada, e depois na Padaria do Bigode – a maior padaria de Tapiraí, não lembro qual foi a última vez que nosso jantar saiu por R$ 16, com bebidas). Continue andando na estrada, assim que acabam as casa da cidade, marque 11 km, logo você verá a placa do km 164. A saída para a estradinha de terra é no km 164,5. A outra dica do Marco é reparar na descida e subida: o km 164,5 é logo que a estrada começa a subir. Há placas indicando a trilha dos tucanos. Em menos de 4km de terra você chega, é a propriedade no fim da estrada. A estrada é boa e não precisa ter carro especial.