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Este post não tem nenhum objetivo, só gostaria de compartilhar algumas reflexões. Como sempre, não necessariamente representa as opiniões do Cris e do Daniel.

Texto e foto: Claudia

Vocês sabem como são as generalizações: são apenas generalizações. Sempre haverá exceções, sempre haverá quem não se sinta nem um pouco enquadrado no cenário, sempre haverá quem concorde “é assim mesmo”, ainda que seja para tirar sarro. Então estas são as minhas opiniões sobre as diferenças:

– Os homens têm dificuldades em falar de emoções e lembranças. As mulheres valorizam mais o lado de “estou aqui para aproveitar, contato com a natureza, vi cenas maravilhosas de que nunca vou esquecer”. Talvez os homens não saibam falar dessas coisas, ou achem que não é muito másculo falar esse tipo de coisa. Então só resta ir atrás de uma ótima foto, ou de uma foto razoável de um lifer.

– Mulheres falam mais, às vezes até quando não devem, como na trilha, em que silêncio e concentração aumentam a chance de você ver as aves.

– Mas há o lado bom de falar mais: mulheres conversam mais também no pré e pós viagem, que é algo que estende o sabor do passeio.

– Homens são mais intrépidos.

– No Brasil, parece haver muito mais homens do que mulheres praticando o birdwatching, porque aqui a atividade está intrinsicamente ligada com fotos, viagens e lifers.

– Nos Estados Unidos, onde há mais de 40 milhões de birdwatchers, mais da metade são mulheres, e uma grande porcentagem não é do tipo que viaja para passarinhar. O birdwatching tradicional é com binóculo e caderneta, não com câmera. Milhões de norte-americanas praticam o birdwatching no quintal ou nas redondezas da casa, só observando, e sem participar de rankings.

– É mais fácil para os homens viajarem. É comum um homem sair para passarinhar sozinho. Para uma mulher é mais difícil, para começar por questões de segurança. Homens também são assaltados, mas as mulheres têm medos de coisas piores. Além disso, se a pessoa tem filhos que não têm idade para acompanhar o passeio, é incomum a mulher deixar o filho com o marido para ir passarinhar.

– Talvez em parte por isso, pela estrutura familiar em que a mulher exerce uma função mais central no núcleo, homens costumam se cobrar mais em termos de participação, tarefas, compromissos com o birdwatching. Já as mulheres tendem a ser mais compreensivas e procuram não cobrar, porque sabem o que é ter que dar conta de filhos, marido, casa, pais, amigos, emprego e ainda arrumar tempo pra passarinhar.

– Números, listas, competição é algo masculino. É um número, e ponto. Ranking de quem tem mais espécies vistas ou fotografadas é uma invenção masculina.

– Definição, foco e proximidade também são critérios masculinos. Incontestáveis. Dominaram o cenário brasileiro de um jeito estranho, a ponto de eliminar os outros estilos de foto. E há muitos: a foto pode valorizar movimento, luz, contexto, cenário, paisagem, olhar da ave, sentimentos, evocar o clima do local. Beleza. Mas falar da beleza que é contestável é algo feminino, não masculino. Seus amigos nunca vão questionar se você elogiar uma mulher pelo corpo bem definido, mas elogiar alguém pela luz dos olhos ou gestos de mãos é se arriscar a falar com o vazio. E queremos conversar com os outros, sermos apreciados, então ficamos no mundo garantido das fotos bem definidas.

E há algo em comum entre homens e mulheres: todos estamos sujeitos à maldição das redes sociais, a direcionar o que fazemos, do que gostamos, o que achamos bonito ou engraçado, o que escrevemos, como fotografamos, dependendo da taxa de retorno de likes e comentários. Às vezes a maldição vai tão fundo que nos tornamos escravos da taxa de retorno da popularidade, em vez de descobrir do que realmente gostamos, ou ir em busca de um sentido maior e mais satisfatório para nossas atividades.