A Espanha é a terra do porco. Se você é vegetariano, muçulmano, judeu ou da cura prânica, lamento. Você está perdendo uma das melhores carninhas possíveis. Esses porcos orgânicos, criados nesses cenários maravilhosos, e os que comem bolotas: tudo isso reflete no sabor da carne. Se você não tem restrições, se esbalde com a carne de porco. O corte chamado secreto ibérico foi um dos nossos favoritos. Infelizmente depende bastante da procedência do porco. A primeira vez que experimentamos, no Carvajal em Torrejón el Rubio foi incrível. Em outros lugares era bom, mas não tão incrível como esse primeiro porquinho. A combinação clássica é carne de porco grelhada, acompanhada de batatas cozidas ou fritas, e pimentões. É tudo simples e saboroso.
O presunto ibérico (jamón ibérico de bellota) é outra iguaria espanhola. Bellota são frutos de uma castanheira típica da região, que os porcos comem, e transparece no sabor da carne. Eles também fazem um licor de bellotas muito bom. A cidade de Montánchez, na Extremadura, é uma das mais famosas para se comprar o presunto. Ele não é baratinho em nenhum lugar, mas numa das lojas o Cris ouviu umas mulheres dizendo que era metade do preço cobrado em Madri. Chegamos na cidade (vilarejo europeu pedregoso, com ruas íngremes e estreitas), fomos seguindo as placas de indicação de centro, e logo encontramos várias lojas que vendiam pedaços de presunto.
A Espanha também é famosa pelas tapas. Comemos em Madri e Sevilha, mas nossos dois restaurantes favoritos de cidade grande foram em Sevilha.
Sevilha – Número 1: La Pepona
Tapas excelentes na faixa de 3 a 5 euros. Vinhos vendidos por garrafa, por taça, e por meia taça (75 ml), o que te dava a oportunidade de provar muita coisa. Atendimento muito atencioso, pedimos sugestão, e o rapaz que nos atendeu foi falando dos pratos favoritos, dos vinhos que mais combinavam, pergunta se gostávamos disso ou daquilo e ia falando das opções de vinhos. Ambiente moderninho, espaçoso, clean, nada besta. Acho que foi nosso favorito, especialmente pelo ajoblanco (uma sopa fria feita com pão e amêndoas), que tinha esse toque de caviar de azeite digno de Mani. As sardinhas também estavam muito boas, as lulas também, sobremesas ótimas, e todas as indicações de vinhos valeram a pena.
Sevilha – Número 2: Eslava
Não foi fácil dar um segundo lugar pro Eslava. Talvez seja até heresia, porque na prática ele é o melhor restaurante de Sevilha. Eu não acho o ranking do Trip Advisor grande coisa no Brasil, mas na Espanha parece bem mais confiável. Um restaurante com 4,5 estrelinhas e 2.993 avaliações. Está classificado como segundo. O primeiro lugar tem 4,5 estrelinhas, com 232 avaliações. Mundo injusto.
A comida do Eslava é mesmo incrível. A terceira foto, esse charutão, se não me engano se chamava “Un cigarro para Becker”, e era algo tão saboroso que a gente não se avexou de pedir três vezes e fazer a garçonete rir. Era uma massa bem fininha e quase crocante, com um recheio de lula na sua tinta, e um creminho azedo. Muito bom.
O La Pepona é número 34, com 4,3 estrelinhas e mais de 900 avaliações. Não foi uma escolha fácil dizer que o Eslava não é número 1, mas considerei que os dois estavam razoavelmente empatados no critério sabor da comida, talvez o Eslava um pouco melhor pela criatividade das tapas, mas o La Pepona também era muito bem executado, e ganhava no quesito atendimento e ambiente. O Eslava é bem muvucado, às vezes é difícil conseguir atenção da garçonete. No La Pepona a gente se sentiu com atendimento VIP.
Torrejón el Rubio – Número 3: Carvajal
Torrejón el Rubio é um vilarejo próximo de uma das entradas do Parque Nacional Monfragüe. O Carvajal nem é listado no Trip Advisor como restaurante, só como hotel. Um lugar pequeno, não muito fácil de achar (chegamos lá, ficamos sentados nas mesas de fora, não acontecia nada, daí descobrimos que é pra entrar no hotel, o saguão do restaurante fica dentro, ninguém dá atenção pras mesas de fora), num vilarejo de uma região pobre. Mas pra gente foi uma das nossas melhores refeições. Bons vinhos, um prato delicioso de aspargos com ovos, sobremesas de sabor delicado, e o melhor porco que a gente já comeu, um corte do tal secreto, que fez a gente descobrir como um porco pode ser saboroso. Jantamos duas vezes lá.
A indicação do restaurante foi do José, o dono da Casa Babel. Não é um lugar barato. Apesar do ambiente simplório e pratos nada sofisticados, eles sabem que o cozinheiro é um artista, e nosso jantar lá ficava entre 40 e 50 euros. Mas valeu a pena, foi um dos pontos altos gastronômicos.
Córdoba – Número 4: Casa Pepe de La Juderia
Lugar lindo em cidade linda. Além dos pratos ótimos, tinha vinho inesquecível, esse Camins del Priorat. Não era caro. Na Wine-search descobri que nos Estados Unidos o povo pode comprar por menos de US$ 20, mas no Brasil – terra de tantas alegrias, principalmente quando envolve impostos, sai por pelo menos R$ 260.
O Casa Pepe é número 18 entre mais de 600 restaurantes de Córdoba. Talvez os em posição melhor sejam mais especiais, mas ficava aberto até mais tarde, a moça do hotel que nos indicou, e gostamos. Por mera coincidência, estávamos hospedados numa Las Casas de La Juderia, e foi o hotel mais legal da viagem. Essa é uma rede que compra casas antigas e transforma em hotéis. Nosso hotel era lindo, nosso quarto era maravilhoso, ótima decoração, cama enorme, banheiro enorme, vista linda. Em geral gastamos pouco com hospedagem, nossos quartos costumam ser só funcionais, mas reconheço que os pequenos luxos fazem diferença na percepção. Só pra explicar que o Casa Pepe foi uma refeição especial pra gente, mas provavelmente estávamos influenciados pelo contexto.
Madri: Sergi Arola
É restaurante de chef, pedimos o menu de chef. O primeiro prato teve sabores impressionantes, tipo os bons pratos do Mani. O resto não. Era bom, mas como é de chef, com preço de restaurante de chef, você sempre espera que seja condizente com o preço. Fora isso, algo que nos irritou foi a seleção de vinhos. Pedimos o menu que vinha com harmonização de vinhos, os vinhos não eram bons, o garçom estava sempre fora de tempo, atrasado pra servir os vinhos, e pelo menos um deles, sabíamos que era um vinho bem barato, porque havíamos tomado na noite anterior num boteco perto do hotel. Decepcionou. Não recomendo.
Outro sinal ruim: na noite que fomos só tinha estrangeiros. Americanos, alemães. Nenhum espanhol achava que valia a pena. E realmente não vale.
Diversos com legendas
Relato do passeio, com as fotos de aves e cenário
- Espanha 2015: Extremadura, Sierra de Gredos, Fuente de Piedra, Vale do Jerte, abr/2015
Coordenadas GPS dos principais pontos, informações sobre alimentação, hospedagem...
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