Tantos guepardos e aves de rapina em ação. Talvez a viagem mais emocionante.
- Texto: Claudia
- Fotos: Cristian: Nikon D300 com Nikkor 500 f4 e Sigma 50-500, Sony HX 100v
- Informações oficiais sobre o Kgalagadi: http://www.sanparks.org/parks/kgalagadi/
- Não consegui consolidar nossas fotos, decidi ter dois posts de umas 70 fotos. Este tem as fotos do Cris. As minhas estão aqui. O texto é o mesmo nos dois posts.
- Essa viagem rendeu tantas fotos que fiz vários álbuns monotemáticos: sequência do Black-shouldered Kite destroçando o petisco, Martial Eagle em poses glamourosas (na verdade, era apenas um jovem desengonçado tentando se equilibrar, mas as fotos ficaram bonitas), o jovem guepardo achando que ia pegar uma ave em voo, um álbum de guepardos – há algumas fotos da viagem de 2010, mas a maioria é desta do Kgalagadi
Conhecemos o Kgalagadi no grand tour de 2006, quando fomos para a África do Sul pela primeira vez, e decidimos ir para o Kruger, o Kgalagadi, a Cidade do Cabo, e também para o Etosha na Namíbia. O Kgalagadi é o lugar onde a National Geographic gravou uma novela sobre a vida das suricatas, um lugar com paisagens amplas e áridas que costumamos associar com a savana africana. O parque tem 38 mil quilômetros quadrados (imagine), e apenas ¼ do parque fica na África do Sul, a outra parte fica em Botsuana. Só conhecemos o pedacinho da África do Sul. O pedaço de Botsuana é mais ermo e exige veículos 4×4 sempre andando em dupla.
A entrada do parque fica a 270 km de Upington, a cidade com aeroporto mais próxima. Em 2006 a estrada era de cascalho e foi uma viagem muito cansativa, de mais de 4h. Mas agora a estrada é asfaltada, dá pra fazer em menos de duas horas, mas ainda é preciso ter uma noite técnica: o voo Johanesburgo – Upington chega depois das 17h, horário em que os portões do parque já estão fechando.
Ainda que a gente adore o Kruger e tenhamos ido pra lá seis vezes e pro Kgalagadi apenas duas, não significa que seja fácil dizer que o Kruger é o favorito. Demoramos para voltar ao Kgalagadi por achar que a viagem ainda seria aquela tortura de quatro horas no cascalho, mas temos certeza de que o Kgalagadi é um dos nossos lugares favoritos na Terra, em especial o campo de Urikaruus.
Sem contar uma noite técnica em Augrabies, Urikaruus foi nossa primeira noite num parque da África do Sul, em outubro de 2006. Esse tipo de campo não tem cerca: são apenas algumas cabanas como se fossem de palafita em volta de um buraco d´água, sem loja, sem restaurante, apenas um ranger com uma espingarda. Lembro que em 2006 chegamos no fim do dia, estávamos descarregando o carro e apareceram algumas hienas para beber água. As distâncias são seguras: mais de 50 metros nos separavam, a escada pro nosso chalé era cercada e tinha uma portinhola, se algum animal se aproximasse bastava entrar e fechar a portinhola. Mas ver um animal como esse, sem grades separando, era aquela sensação de encantamento.
Em 2011 ficamos 11 noites no Kgalagadi. No oitavo dia estávamos bem cansados (e vindo de uma semana no Kruger), pensando “amanhã a gente faz dia livre” que significa não precisar acordar às 6h, mas é claro que a gente nunca tinha coragem de ficar na cama. Íamos nos arrastando pro carro, mas saíamos.
Foi uma das nossas viagens mais espetaculares em rendimento de fotos. A paisagem ampla, seca e aberta favorece os predadores e os fotógrafos. É fácil ver aves de rapina, inclusive caçando, e nessa viagem vimos muitos guepardos. Doze com certeza, porque eram famílias com tamanhos diferentes dos filhotes. Vimos os bichos comendo um springbok recém-caçado, vimos uma família cruzar a estrada na nossa frente e um filhote brincar de perseguir um Thick-knee. Vimos uma jovem Martial Eagle nos seus últimos dias no ninho, já sem adultos por perto, ensaiando voos, andando pela areia, sentada na areia vermelha, na beira da estrada. Vimos uma cobra comendou outra cobra, vimos um Black-shouldered Kite despedaçando um ratinho a poucos metros de nós, Black-shouldered Kite carregando uma cobra nas garras, pena que longe, uma linda leoa deitada no meio da estrada de areia, as suricatas com vários filhotes, Cape Fox com filhotes pequenos, moravam praticamente embaixo do nosso chalé de Urikaruus, pudemos observá-las de pé, escondidos atrás do nosso carro. Eu queria muito ver, e conseguimos ver várias vezes o Pymy Falcon, uma ferocidade de 20cm. Casal de Gabar Goshawk, com a fêmea melânica, lindos como se fossem propaganda da Benetton. Coruja-da-igreja (sim, Tyto alba) à noite em Urikaruss, famílias de Spotted-eagle Owl e Southern White-faced Scops-owl durante o dia, na beira da estrada. Vimos 62 espécies de aves. Na viagem de 2006 – quando ainda não tínhamos esse olhar passarinheiro, foram apenas 24.
Bom, e não basta ter tantas oportunidades pra fotos boas: o cenário é lindo. Locais com areia vermelha, céu azul e nuvens pinceladas, luz diferente no fim de tarde, havia uns trechos com umas moitas de um verde delicado que sob a luz do entardecer eram quase verde-água e parecia que tudo ficava tingido de um tom lilás. As planícies amplas, topar com as famílias de guepardos caminhando na beira da estrada e depois se afastando, até sumir atrás de algum pequeno morro, a sensação de que a vida é assim há milênios, e que estávamos lá, tendo a honra de observar um pouco de um lugar pouco alterado pelo homem, e com as vantagens de estradas plainas, carros com ar-condicionado, câmeras incríveis.
Um dos momentos mágicos da viagem foi com um animal que não costuma receber muita atenção: o avestruz. Um casal tomava banho de areia num desses entardeceres de cores mágicas, a poeira que aquelas asas poderosas levantavam parecia um feitiço em volta deles. Feitiço contra carrapatos e outros parasitas, dizem, mas tinha cara de feitiço mesmo assim. Estava tão entretida observando e fotografando que nem vi quando os outros carros chegaram. Só quando os avestruzes levantaram para ir embora percebi que havia quatro carros ao nosso redor, com os motores desligados, alguns só com binóculo ou até a olho nu. Uma sensação incrivelmente boa: comunhão. Sentir que você está entre pessoas que reconhecem a beleza, não são apenas uns bobocas que só querem saber de de leões e leopardos.
O encontro com os avestruzes foi nosso último dia nesse parque espetacular. Um fechamento de ouro para uma das nossas viagens com mais emocionantes.
Quem tiver interesse pelo Kgalagadi precisa conhecer Urikaruus. Mas é preciso reservar com muitos meses de antecedência, quanto antes melhor. As reservas só abrem 12 meses antes. Twee Rivieren não é bonito assim, e os chalés são naquele estilo antiquado. Mas em 2011 nos arredores desse campo havia muitos guepardos, então também é outro lugar recomendado.
Lista das espécies vistas / fotografadas no Kgalagadi em 11 dias. Saindo cedo, mas sem focar em aves: 64 espécies
obs: sem sair do carro, sem guia e sem playback
Full Name | Scientific Name |
Black-headed Heron | Ardea melanocephala |
Egyptian Goose | Alopochen aegyptiaca |
Lappet-faced Vulture | Aegypius tracheliotos |
White-backed Vulture | Gyps africanus |
White-headed Vulture | Aegypius occipitalis |
Bateleur | Terathopius ecaudatus |
Black-chested Snake-Eagle | Circaetus pectoralis |
Brown Snake-Eagle | Circaetus cinereus |
Tawny Eagle | Aquila rapax |
Martial Eagle | Polemaetus bellicosus |
Booted Eagle | Hieraaetus pennatus |
Southern Pale Chanting Goshawk | Melierax canorus |
Black-shouldered Kite | Elanus caeruleus |
Pygmy Falcon | Polihierax semitorquatus |
Gabar Goshawk | Melierax gabar |
Lanner Falcon | Falco biarmicus |
Greater Kestrel | Falco rupicoloides |
Common Ostrich | Struthio camelus |
Secretarybird | Sagittarius serpentarius |
Northern Black Korhaan | Afrotis afraoides |
Crowned Lapwing | Vanellus coronatus |
Burchell’s Sandgrouse | Pterocles burchelli |
Namaqua Sandgrouse | Pterocles namaqua |
Namaqua Dove | Oena capensis |
Barn Owl | Tyto alba |
Spotted Eagle-Owl | Bubo africanus |
Verreaux’s Eagle-Owl | Bubo lacteus |
Southern White-faced Scops-Owl | Ptilopsis granti |
Swallow-tailed Bee-eater | Merops hirundineus |
Lilac-breasted Roller | Coracias caudatus |
Purple Roller | Coracias naevius |
Red-billed Hornbill | Tockus rufirostris |
Southern Yellow-billed Hornbill | Tockus leucomelas |
African Hoopoe | Upupa africana |
Crested Barbet | Trachyphonus vaillantii |
Fawn-coloured Lark | Calendulauda africanoides |
Spike-heeled Lark | Chersomanes albofasciata |
Lesser Striped Swallow | Cecropis abyssinica |
Fork-tailed Drongo | Dicrurus adsimilis |
Cape Crow | Corvus capensis |
Dark-capped Bulbul | Pycnonotus tricolor |
Ant-eating Chat | Myrmecocichla formicivora |
Kalahari Scrub-Robin | Erythropygia paena |
African Reed-Warbler | Acrocephalus baeticatus |
Long-billed crombec | Sylvietta rufescens |
Black-chested Prinia | Prinia flavicans |
Rufous-eared Warbler | Malcorus pectoralis |
Chat Flycatcher | Bradornis infuscatus |
Marico flycatcher | Bradornis mariquensis |
Black-throated Wattle-eye | Platysteira peltata |
Common Fiscal | Lanius collaris |
Crimson-breasted Shrike | Laniarius atrococcineus |
Wattled Starling | Creatophora cinerea |
Cape Sparrow | Passer melanurus |
White-browed Sparrow-Weaver | Plocepasser mahali |
Red-billed Quelea | Quelea quelea |
Violet-eared Waxbill | Uraeginthus granatinus |
Red-headed Finch | Amadina erythrocephala |
Scaly-feathered Finch | Sporopipes squamifrons |
Black-throated Canary | Crithagra atrogularis |
Yellow Canary | Crithagra flaviventris |
Lark-like Bunting | Emberiza impetuani |
Informações detalhadas sobre a viagem – melhor época, custos, infraestrutura
Para saber mais sobre os campos e a estrutura dos parques nacionais africanos, veja este álbum.
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