- Texto e fotos: Claudia Komesu
- Tenho o privilégio de contemplar com frequencia a natureza de Campos do Jordão, graças à casa de campo dos meus sogros, cercada por araucárias. Faço poucos passeios focados em birdwatching, porque geralmente estamos lá com a família, mas tenho alguns pontos preferidos para compartilhar.
Resumo: Campos do Jordão – SP
Informações escritas em fevereiro de 2012. Base: diversos passeios entre 2007 e 2012.
Destaques: papagaio-de-peito-roxo, caneleirinho-de-chapéu-preto, beija-flor-de-topete, pica-pau-rei, gaturamo-bandeira, pavó, grimpeiro, sanhaçu-frade. Há um ponto para a saudade-assobiadora, mas eu mesma só a vi de relance uma vez.
Nível de dificuldade: fácil. Cidade com boa estrutura, estradas boas, pontos próximos um do outro, você chega de carro a todos os lugares. O ponto mais afastado é a estrada para a Pedra do Baú, a 25km do centro de Campos.
Infraestrutura do local: boa. Cidade turística, lota em julho no Festival de Inverno e nos feriados do segundo semestre. Há várias opções de estada, mas os restaurantes não são grande coisa, e infelizmente os preços são bem turísticos.
Oportunidades fotográficas: muito boas. Vários trechos com áreas abertas e iluminadas, aves se aproximam com o playback. Em três situações, oportunides excepcionais: em 2009 ninho de tesourinha-da-mata em um pesqueiro, em área aberta, relativamente baixo; floração das cerejeiras em junho de 2010 com muitas aves se alimentando das flores; frutificação de plantinha silvestre em junho de 2011 que atraiu gaturamos-rei e gaturamos-bandeira.
Onde fotografamos: na estrada de terra lateral ao horto de Campos (entrada à direita, um pouco antes da portaria do horto), arredores da hípica golf e do Beto Perroy, estrada para a Pedra do Baú, Amantikir (parque temático com jardins típicos de vários países).
Como chegar: Carvalho Pinto e depois SP-123 (Floriano Rodrigues. Mais informações, inclusive sobre como chegar de ônibus, neste link.
Guia ornitológico: Rafael Fortes, um dos melhores guias do Brasil. Mora em Taubaté e pode ir te encontrar em Campos. Conhece muito bem a região, recomendo.
Logística: por ser uma cidade turística, com certeza as agências podem ajudar a encontrar hotéis. Meus sogros têm uma casa na cidade, por isso infelizmente não sei indicar hotéis e restaurantes.
Quando ir: há aves em todas as épocas. Tenha em mente que no verão chove bastante, quase todos os dias, principalmente à tarde. Em julho a cidade lota. Tive avistamentos muito bons na primeira quinzena de junho e em novembro.
O Parque Estadual de Campos do Jordão ocupa 40% do município. Além dessa área grande com muitas araucárias, fragmentos de mata na cidade e as regiões preservadas de São Bento do Sapucaí e Santo Antonio do Pinhal garantem uma boa diversidade de aves como o beija-flor-de-topete, o caneleirinho-de-chapéu-preto, o sanhaçu-frade, o gaturamo-bandeira, o gaturamo-rei, o verdinho-coroado, o grimpeiro, a tiriba-de-testa-vermelha, a saíra-lagarta, a coruja-listrada e o quete.
A cidade de Campos do Jordão tem (em fev/12) uma lista de 236 espécies registradas no Wikiaves. Se contarmos as cidades em um raio de 50km, a lista vai para 396 (graças aos passarinheiros do Vale do Paraíba, que fazem um bom levantamento das aves da região do Vale).
Meus sogros têm uma casa em Campos do Jordão, em um condomínio com várias araucárias, por isso tenho muitos registros das aves do quintal, que incluem até o pica-pau-rei e o gavião-pernilongo no verão, uma foto da coruja-listrada, e rotineiramente o papagaio-de-peito-roxo. Já vi 57 espécies de aves no condomínio, sendo 43 pousadas no quintal. Em Campos e em São Bento do Sapucaí já vi mais de 150 espécies de aves.
No fim do post coloquei a lista de aves da cidade e minha opinião sobre a probabilidade de vê-las.
Há aves em todas as épocas, e a primavera (setembro-início de novembro) é uma época especial em qualquer lugar do mundo. Mas depois do que eu vi nos dois últimos anos, considero a primeira quinzena de junho um período especial.
Em junho, julho e agosto há céus de um azul espetacular, às vezes muito frio, mas gostoso, chove pouco. Em julho há o festival de inverno, bom para aliar com passeios para a família, mas a cidade lota bastante. Não tenho experiência nos famosos meses de setembro e outubro, porque nos últimos cinco anos temos ido para a África do Sul nessa época, mas com certeza é um período muito bom. Entre novembro e fevereiro chove com freqüência, mas também é bom para as aves. Ainda é possível ver filhotes grandes acompanhando os adultos. Vemos os filhotões da maria-faceira, de saí-azul, sabiás, quetes. Foi num mês de fevereiro que vimos um bando de gaviões-tesoura dando rasantes no Amantikir, se alimentando de frutas silvestres, nem sabia desse lado vegetariano deles. Os meses de março e abril não costumam ser famosos, mas foi em um mês de março que peguei meus melhores papagaios-de-peito-roxo, pousados na araucária do vizinho, namorando.
Em Campos já peguei dois eventos naturais que renderam algumas das minhas maiores alegrias passarinheiras e melhores fotos: uma floração de cerejeiras em junho de 2010 que atraiu gaturamos-bandeira em um dia com sol, e uma floração de uma frutinha silvestre, uma bolinha cor-de-rosa que dá em uma planta que parecem canudos verdes em vários ângulos (se alguém souber o nome da planta, agradeço). É uma planta que fica nos troncos de pinheiros-bravos. Em junho de 2011 fiquei mais de duas horas acompanhando um casal de gaturamos-rei comendo essas frutinhas. Não estavam muito baixos, mas ficaram por lá, e o macho cantava muito, foi lindo.
Se você está começando a passarinhar, é recomendável contratar um guia ou ter a companhia de uma pessoa que conhece a região. Não há problemas de segurança ou de se perder, mas talvez você fique com a sensação de que está vendo poucas aves.
Mesmo com guia, é importante você ter isso em mente: em uma lagoa com muitas aves aquáticas, ou no litoral no local em que as aves ficam, você tem certeza de que verá aves. Nos outros lugares as aves vão aparecendo, e dependendo da época podem ser avistamentos esparsos, mas que valem muito a pena.
O Rafael Fortes, vulgo Magic Rafa, um dos melhores guias do Brasil. Ele mora em Taubaté, e já fiz muitas saídas com ele, algumas em Campos. Soube que o Thiago Carneiro também tem guiado, mas ainda não o conheço pessoalmente. O Rodrigo Dela Rosa certamente conhece bem a região. Eles podem ser contactados pelo Wikiaves > menu Informações > Buscar usuários.
Vou precisar de ajuda para esse tópico. Se você tiver indicações, por favor mande para o claudia.komesu@gmail.com. Como sempre ficamos na casa dos meus sogros, não sei indicar. Sei que o Edson Endrigo costuma ficar hospedado na Pousava Vale Verde quando vai pra lá. Fica no início da estrada para o horto. Algumas pessoas ficam na 3 Pinheiros.
Frequentamos pouco os restaurantes, não achamos nenhum especial. Já fui ao Manati Gril, em Capivari, um buffet com boa diversidade. O Baden Baden é famoso, barzinho, cervejas. O Churrasco ao Vivo não era grande coisa. O Gato Gordo era razoável, mas nada especial, não sei se mudou agora que saiu da rua dos gaturamos-rei. O Krokodilo novo, na estrada para o horto tem ambientação interessante mas a comida não é um destaque.
Gostamos de seguir a estrada lateral ao horto, que vai dar em Guaratinguetá, caminho de romeiros, e parar nas casas que têm uma placa ou cara de ter comida caseira, com alguns carros estacionados na frente e portão aberto. Porco ou frango caseiro, arroz, feijão, salada com folhas e pepinos geralmente da horta da casa, vista bonita, tranqüilidade, pessoas simpáticas e nada da sensação de que você está sendo explorado.
A cidade fica realmente difícil, evite a área urbana, evite ir ao horto depois das 10h, a menos que você goste da muvuca. Cuidado com as saídas dos feriados. Já pegamos um 7 de setembro que na volta para São Paulo, umas 11h da manhã, levamos mais de 1h30 para conseguir sair da cidade.
– Estrada lateral ao horto de Campos – a estrada de terra à direita, próxima à entrada do horto: é um dos pontos do caneleirinho-de-chapéu-negro, às vezes o papagaio-de-peito roxo,tiribas-de-testa-vermelha, cuiu-cuiús voando, gaviões (uma vez o gavião-pega-macaco deu um rasante incrível), o caminheiro-de-barriga-acanaleada, as marias-pretas, o surucuá-variado, uma vez o peito-pinhão, uma vez o surucuá-de-barriga-amarela, grimpeiro, saíra-lagarta, verdinho-coroado. A saudade-assobiadora também fica lá, e muita gente já a fotografou, menos eu.
– Estrada para a Pedra do Baú, já em São Bento do Sapucaí. Fica a uns 25km de Campos, mas vale bastante a pena. O passeio é na parte de terra da estrada, depois que você sai da pista de asfalto. (Ainda que meu melhor pavó tenha sido no asfalto, em uma manhã fria com o Rafael Fortes). É outro local bom para o caneleirinho-de-chapéu-preto, estalinho, guaracava-cinzenta, surucuá-variado, pica-pau-rei, o verdinho-coroado, saíra-lagarta.
– Amantikir – parque privado com jardins temáticos: sanhaçus-frade, em algumas épocas o sanhaçu-fogo, beija-flor-de-peito-azul, besourinho-de-bico-vermelho, gibão-de-couro, tiriba-de-testa-vermelha, às vezes um bando de gaviões-tesoura, tucano-de-bico-verde, arapaçu-de-garganta-branca, tecelões, uma vez em junho o beija-flor-de-bochecha-azul, um registro incomum no Estado. As aves variam, mas o local é bonito e agradável, sempre passo por lá. Você verá que várias fotos deste álbum foram feitas lá.
– Parque das Cerejeiras: mal pode ser chamado de parque: é uma faixa estreita de mata (uns 20- 30 metros ), grudada com a avenida principal de saída de Campos do Jordão. A faixa de mata margeia um córrego não muito limpo, mas no trecho que fica ao redor da Casa do Artesão, em frente aos Bombeiros, perto do Grande Hotel, mais ou menos na altura do número 4.000, há várias cerejeiras. Quando elas estão floridas atraem gaturamos-bandeira, tiribas-de-testa-vermelha, beija-flor-de-topete, saí-azul, sanhaçude-encontro-amarelo de um jeito que dá fotos lindas. Peguei essa floração dias 12 e 13 de junho de 2010. Em 2011 fui para lá na mesma época, mas uma geada tinha queimado as flores em vários locais da cidade.
Há um outro parque das cerejeiras, o Sakura, onde acontece um Festival de Cerejeiras em julho. Claro que vale a pena ir se elas estiverem floridas, só tente evitar os dias do festival, quando há dezenas de ônibus.
– Pousada 3 Pinheiros. Mantinha, não sei se anda mantém, um bebedouro que atraía o beija-flor-de-topete. Há uma cerejeira dentro da área da pousada, e quando está florida é uma festa, é possível fotografar as aves bem de perto, como o estrelinha-ametista e a saíra-lagarta fotografada pelo Francisco Kallen, dono da pousada, que ganhou menção honrosa no Avistar de 2011. Há uma mata razoável nos arredores da pousada. O gavião-pega-macaco costuma passar por lá, e as tesourinhas-da-mata em algumas épocas. Já fotografei tangará e fruxu no jardim deles. É um lugar que tem muitas aves, mas que parei de ir porque da última vez que tentei a Maria Teresa nos proibiu de entrar, disse que o quintal era só para os hóspedes da pousada. Fiquei surpresa, porque das outras vezes éramos bem-vindos. Já ouvi falar de gente que foi depois disso, não estava hospedado, mas pôde fotografar. É um lugar que vale a pena conhecer, principalmente se o beija-flor-de-topete estiver freqüentando o bebedouro, mas antes entre em contato com o Francisco Kallen, via o Wikiaves ou pelo site da 3 Pinheiros. www.pousada3pinheiros.com.br
Se o jardim estiver disponível apenas para os hóspedes, e você não estiver hospedado por lá, pode tentar passear pelas estradas ao redor, onde parece haver uma boa mata.
E o próprio horto de Campos? Com certeza é um bom local. Temos fotos de 2006-2007 de lá, de um caneleirinho-de-chapéu-preto e de um pavó, nas áreas próximas dos viveiros de plantas. Na época nem sabíamos que aves eram aquelas. Antes das 10h há pouca gente circulando. Se você for em feriados ou em julho é importante ir cedo, porque a partir das 10h o parque enche de ter fila grande de carros para entrar.
Não vou mais lá porque uma vez eu, o Cris e o Daniel tivemos o desprazer de ser abordados por seguranças que vieram nos dizer que era proibido fotografar no parque. Só porque nossas câmeras eram grandes. O mal entendido foi desfeito pelo supervisor, e depois fiz questão de mandar um e-mail para a gestora do parque, Dra. Célia Serrano, mas recebi uma resposta chapa branca e não quis mais voltar lá.
Esta é a lista de aves de Campos do Jordão, extraída do Wikiaves em fevereiro de 2012. 240 espécies. Nome científico, nome popular, quantidade de fotos postadas, e a última coluna é minha opinião sobre a probabilidade de você ver a ave.
É preciso entender a quantidade de fotos postadas no Wiki: uma grande quantidade não é sinônimo de abundância da espécie. Por exemplo, há muitos tico-ticos, mas as pessoas não têm interesse em fotografá-los ou postá-los. Já o caneleirinho-de-chapéu-preto, todos que vão querem registrar e postar. Algumas fotos têm o número zero porque só há registro sonoro.
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