Tudo por causa de um udu-de-coroa-azul

  • Texto: Claudia. Fotos: Claudia – Nikon D300 e Sigma 50-500, Cristian com uma Panasonic pra água.

Tudo começou porque num dos dias no parque aquático de Olímpia um udu-de-coroa-azul resolveu cruzar o lago dos pedalinhos na minha frente.

O udu-de-coroa-azul é esse bicho fabuloso:

pantanal_udu-de-coroa-azul

udu-de-coroa-azul, mas no Pantanal

ele é relativamente comum no Cerrado, fica em parques urbanos, às vezes é manso. Mas eu não tinha nenhuma foto boa dele (esta é do Pantanal anos depois, em julho de 2013), e quando ele passou na minha frente, plainando sobre o lago, você pode imaginar a comoção que me causou.

A gente foi pra Olímpia para ficar no parque aquático. O que eu estava fazendo armada com a D300 e a 50-500? Com os birdwatchers é assim – nunca se sabe, e por via das dúvidas, é melhor levar a câmera. Por isso, no dia seguinte à aparição do udu acordei em horário passarinheiro e fui dar uma volta nos arredores do parque.

Atrás do parque aquático havia uma rua de terra, cheia de entulhos e mato. Mas pela manhã também tinha atividade de aves. Topei com um alegrinho, fim-fim, tico-tico-d0-mato, corruíra, choca-barrada, sanhaçu-do-coqueiro, besourinho-de-bico-vermelho, choca-barrada, um tucanuçu sobrevoou e deu uma fotinho.

Fui trolada por um fusca.

Caminhava pela rua, uma moto veio na minha direção e voltou. Pensei “é comigo”. Uns minutos depois vem um fusca azul-claro com uma mulher e um homem, querendo saber o que eu estava fazendo lá. “Estou fotografando aves”, “Aqui??” – só faltou a mulher me falar “sua mentirosa”. Passarinhar do jeito bom é uma atividade que traz uma grande paz de espírito, então eu nem fiquei brava. “Sim, veja aqui – e mostrei as fotos no visor”. Ela me falou “ah, então tá bom… é que tem um problema com a prefeitura, essa questão do entulho, a gente achou que você estava aqui tirando foto do entulho e…” “moça, eu nem sou daqui, e não tenho nada a ver com isso. Estou só fotografando aves”.  E eles finalmente foram embora. Respirei fundo e lentamente migrei de novo pra sintonia das aves.

Mais tarde naquele dia, lá fomos nós na missão udu-de-coroa-azul. Fomos até o mesmo lago, pegamos um pedalinho, o Daniel foi o motorista, o Cris atrás. Foi legal procurar o udu, mas ele não voltou a aparecer. Pegamos um bom casal de andorinhas-do-rio, um biguá comendo um peixe bem gordinho, uma garça-branca-grande passeando pelo gramado. Guardei a câmera, mas no fim do dia teria fotografado pardais tomando banho nas pequenas poças d´água no piso do parque.

Na manhã seguinte voltei para a rua de trás do parque e também vi pica-pau-verde-barrado, um príncipe, sanhaçu-cinzento, beija-flor-de-garganta-verde e ferreirinho-relógio.

Isso foi só o que eu puder ver. Não tenho o dom que os guias e outras pessoas têm de reconhecer os cantos das aves. Pra você ter uma ideia, um bom guia, numa manhã em uma região de Mata Atlântica secundária ouve facilmente o som de mais de 100 espécies.

As aves estão em todos os lugares.