A Trilha é daqueles lugares tão bons que mesmo em dias de mata silenciosa você aproveita muito

Fui passarinhar com o Wagner Nogueira e a Camila Lima logo após o Avistar. Saímos do Villa-Lobos, passamos no hotel pra pegar as malas e fomos para a Trilha dos Tucanos. Estrada livre, em 2h30 estávamos na Trilha. Na estrada de terra, uns quilômetros antes de chegar, demos sorte de ver uma dupla de mãos-peladas atravessando a estrada (e ainda pararam por um segundo para olhar o carro), e o Wagner viu algo que possivelmente era um gato-do-mato.

Fomos recebidos com a simpatia de sempre do Marco e da Patrícia, que nos esperavam com uma sopa deliciosa de carne e legumes, acompanhada de torradinhas e queijo.

O dia seguinte amanheceu nublado e até 9h a luz estava bem ruim. Mas tivemos a honra de topar com a estrela do local, casal de marias-leques-do-sudeste interagindo. Na verdade, elas cruzaram a nossa frente e pousaram por um segundo num galho, com o leque aberto. O Wagner mirou, não deu tempo de focar, mas pelo borrão dá pra ver claramente que ele quase conseguiu como primeira foto do dia o bichinho com o leque aberto. Bando de tiê-do-mato grosso, trepador-quiete, trepador-sobrancelha, arapaçu-de-garganta-branca. O Wagner ia ouvindo e anotando. No 1,5 dia que ficamos lá, ele registrou 131 espécies de aves, e há chance dele ter ouvido o apuim-de-costas-pretas e o papo-branco, duas aves ameaçadas de extinção. Mas ele não tem certeza, então não incluiu na lista.

Os encontros com os pica-paus foram bem especiais. O pica-pau-dourado estava na trilha e ficou um bom tempo na nossa frente, entretido em cavoucar o tronco, sem se importar com nossa proximidade. Topamos com o bandinho de beneditos-de-testa-amarela na trilha, e também nos comedouros atrás da casa, onde eles já são habitué. É uma beleza voltar do passeio e ficar sentado em volta da casa, em frente aos comedouros, esperando os bichos aparecerem. Beneditos, guaxes, tecelões, periquitos, sanhaçus, sabiás, catirumbavas, saíras-sete-cores, tem um desfile de bichos. O encontro com o rei foi no dia seguinte, quando já estávamos nos preparando para ir embora. O Wagner ouviu o bicho, me avisou, eu tinha deixado a câmera na sede, ele desceu lá pra pegar, tocou o playback (foi um dos poucos bichos que respondeu ao playback), e conseguimos ótimas fotos. Era um bandinho: duas fêmeas e um macho.

Nas trilhas também topamos com um anfíbio, devidamente registrado porque a Camila é bióloga e sabe como pegar no bichinho (o Wagner também é biólogo, mas é que a Camila tem uma atração especial por anfíbios). Também tinha (considerando os dois dias) pimentão residente perto da sede, muitos pula-pula-ribeirinhos, beija-flores zunindo pelas trilhas, e aquelas aves petiticas minúsculas que você só sabe que estão lá porque tem um ornitólogo no grupo. Papa-moscas-de-olheiras, não-pode-parar, olho-falso, zidedê, piolhinho-verdoso, piolhinho-serrano.

De rapinantes, um gavião-pega-macaco bem longe, e um voo rápido do gavião-pernilongo.

Tive minha primeira visão da pariri! Pulou na nossa frente na trilha, mas não deu nem tempo de respirar que ela foi embora.

Não corujamos. Trocamos corujada por pizza caseira assada no forno à lenha, vinho e bate-papo. Eu ainda me recolhi mais cedo, mas o Wagner e a Camila foram dormir quase meia-noite.

No dia seguinte fomos andar na área mais aberta, dos eucaliptos. Saíra-militar, topetinho-verde e outros beija-flores nos eucaliptos, mas muito alto. Foi nessa área que vimos o gavião-pernilongo, tivemos um bom encontro com o trepador-sobrancelha, bando de cigarras-do-bambo, arapaçu-grande, piolhinho-verdoso, tietinga. O pixoxó e o bico-assovelando cantavam, mas nada de se aproximarem. Essa área mais aberta tem árvores muito bonitas, bem altas, carregadas de bromélias. Numa dessas árvores vimos a terceira espécie de surucuá do passeio.

Infelizmente não vimos a jacutinga e os araçaris. Só depois o Felipe Alves me contou que o segredo é servir arroz carreteiro nos comedouros :o) Mas tive um ótimo avistamento de tiribas-de-testa-vermelha se alimentando bem tranquilamente nos frutinhos das palmeiras.

Voltamos pra São Paulo na terça logo após o almoço. Expliquei pra Patrícia e pro Marco que queria evitar o trânsito, e só depois lembrei que tinha mais um ótimo motivo pra sair cedo. Era dia do meu rodízio, mas chegamos em casa bem antes das 17h. Tive a companhia do Wagner e da Camila até quinta, e pude levá-los pra comer num restaurante peruano (o Suri), num árabe do centro, bem típico, simples e delicioso o Habib Ali – jogue isso no Google (agradecimentos ternos aos pessoal da senzala). O KFC não foi ideia minha, mas eles falaram que estava bom (era uma das metas da viagem). Outra meta era ter conhecido o Terraço Itália, mas o Wagner enrolou a Camila e a levou pra Ludo Luderia.

A Trilha é daqueles lugares tão bons que mesmo em dias de mata silenciosa você aproveita muito. Agradeço o carinho de sempre do Marco e da Patrícia, e pela companhia do Wagner e da Camila :o)